São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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PRESSÃO INACEITÁVEL

O governo norte-americano retoma, às vésperas do reinício das negociações para a constituição da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o tema da dissolução de acordos sub-regionais. Assim, o Mercosul desapareceria para entrar no bojo de um acordo mais amplo, que seria a união do continente, abrangendo 34 países. O argumento é, a um só tempo, lógico e imperial.
"Toda vez que se conclui um acordo comercial que reduz as barreiras entre as partes e estas não incluem os Estados Unidos, os produtores norte-americanos ficam em desvantagem na competição nesses mercados", diz Jeffrey Lang, subchefe do USTr, organismo que funciona como xerife do comércio internacional para os Estados Unidos.
De fato, ao reduzir as barreiras comerciais para a produção argentina, por exemplo, no âmbito do Mercosul, o Brasil está oferecendo a ela uma vantagem competitiva que não é compartilhada com os produtores norte-americanos.
Mas o argumento pode ser lido também de uma maneira mais impositiva: todo acordo comercial que não favorece os Estados Unidos é considerado inaceitável por estes, ainda que beneficie outros países.
É o caso do Mercosul: o crescimento do comércio entre seus quatro países membros foi exponencial, desde que se iniciou a redução de barreiras.
O argumento de Lang pode ser contestado também pelo lado estatístico: as exportações dos EUA para o Mercosul subiram de US$ 6,6 bilhões em 1990 (quando se inicia o processo de integração) para US$ 18,6 bilhões no ano passado.
Ou seja, o fato de os quatro países do Mercosul trocarem mais mercadorias entre si não impediu que também importassem mais dos produtores externos.
É compreensível que os Estados Unidos pretendam tirar o máximo de vantagens de acordos comerciais. Mas não é aceitável que seus parceiros se curvem docilmente aos interesses norte-americanos.

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