São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Sem polícia, Maceió vira 'terra sem lei'

RODRIGO VERGARA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

A ausência de policiais militares e civis nas ruas de Maceió transformou a capital alagoana em uma "terra sem lei". Os moradores fazem as vezes de polícia.
"Esse tipo de ação da população é muito perigosa. É uma faca de dois gumes, pois o delinquente, abordado, tende a reagir. Isso causa mais violência", disse o coronel Aílton Pimentel, que deve assumir hoje o sub-comando da PM.
Lojas, bancos e mercados funcionam sem um único policial por perto e com a certeza de que qualquer delito, mesmo em frente a uma delegacia, não será punido.
Sem proteção, os moradores tentam recuperar sozinhos o que foi roubado ou vingar por conta própria as agressões que sofrem.
É o caso de Mário Rogério Guimarães Costa, 32, e Cristiane Medeiros Silva, 22, casados e donos da avícola Ki-Frango, no centro.
Às 18h30 da última terça, ao voltar da praia, descobriram a porta e o cofre da loja arrombados. Faltavam R$ 1.110. O funcionário J.E.S., que havia ficado na loja antes de os donos saírem, havia desaparecido.
Certos da culpa de J., eles foram ao 1º DP, a 50 metros dali, mas não obtiveram ajuda. "Estávamos em greve, não podíamos ajudar", disse ontem o policial Círio Mendes.
Costa decidiu investigar. Esteve em três cidades próximas a Maceió, distribuiu xerox com foto do suspeito e, na quarta, descobriu J. em Arapiraca, a 120 km da capital.
Com um amigo e uma cunhada, foi à casa do funcionário. Embora desarmados, prenderam e levaram o suspeito para a delegacia.
Lá, a surpresa: os policiais se negaram a prender J., que confessou o crime e disse ter gasto o dinheiro. Em outras duas delegacias, a resposta foi a mesma. "Só se eu o matasse para resolver", diz Costa.
"Saímos eu e ele da delegacia, e eu ainda dei R$ 5 para ele voltar para Arapiraca, senão ele iria roubar alguém para pegar dinheiro."
"O pior é que eu estou com medo de que ele volte para descontar na gente o que ele apanhou dos policiais", disse Cristiane.
Há uma semana, o Pronto-Socorro de Jacintinho, na periferia da capital, viveu momentos de tensão quando 15 pessoas armadas com revólveres, facas e pedaços de ferro tentaram invadir o hospital.
Elas queriam linchar um morador que havia esfaqueado outro em uma briga. "Liguei, mas a polícia disse que estava em greve e que tinha até soltado os presos. Liguei para a casa do delegado, ele estava dormindo e disse que greve era greve", disse um médico, que acabou transferindo o paciente.
À noite, jovens motoristas fazem derrapagens e manobras arriscadas na orla da praia.

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