São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Estatal vira cemitério de ônibus

ELVIRA LOBATO
DA ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ

Um cemitério de ônibus, com mais de duzentos carros parados e funcionários ociosos -com 12 meses de salário em atraso- foi no que deu a estatização de três empresas de ônibus de Maceió decretada em março de 1987.
Collor, então governador, desapropriou a Auto Viação Progresso, a Auto Viação Nossa Senhora de Fátima e a Empresa Santa Maria Ltda., que respondiam por 70% do transporte urbano de Maceió.
As empresas pertenciam ao grupo Monteiro, que tinha 279 ônibus e explorava 56 linhas na cidade. Estatizadas, elas foram assumidas pela Eturb (Empresa de Transporte Urbano), que está em liquidação. Os indicadores da Eturb mostram que a estatização já deu um prejuízo de mais de R$ 40 milhões.
Em novembro de 96, o governo fez um acordo indenizando a família Monteiro em R$ 23 milhões -mais de um terço da receita mensal (R$ 60 milhões) de Alagoas. A última parcela, de R$ 1,1 milhão, foi paga dia 10 de julho.
A Eturb não tem dinheiro nem para pagar o papel higiênico e o café dos empregados. Tem dívidas de mais de R$ 20 milhões e já não possui nenhuma das linhas que tinha na época da encampação. Em janeiro de 95, quando Suruagy assumiu, a empresa tinha 1.024 empregados e 44 ônibus para 14 linhas.
As linhas foram transferidas a empresas privadas, que assumiram parte de seus funcionários. Assim, a Eturb reduziu seu quadro para 264 pessoas, mas continuou sem dinheiro para os salários. Fontes do governo atribuem a falência ao uso político da estatal.
Confusão de números
As empresas foram estatizadas em março de 87 e o laudo de avaliação foi publicado no "Diário Oficial" em outubro. Os números do laudo não conferem com os valores negociados na Justiça.
Pelo laudo, as empresas tinham patrimônio de Cz$ 207 milhões e seriam indenizadas por 50% do total. O pagamento incluía a devolução de bens das empresas, restando um débito de Cz$ 543,36 mil.
Em janeiro de 88, o governo assinou acordo com outro valor: Cz$ 103,4 milhões. A Secretaria dos Transportes não soube explicar o motivo. O Estado, porém, não pagou a indenização no prazo. E, em novembro de 96, fez acordo de indenização de R$ 23 milhões.
Para o empresário Laércio Monteiro, o governo "expropriou" suas empresas, que teriam sido "sucateadas pelo Estado".
(EL)

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