São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Consórcio faz 'milagre' com verba do SUS

DANIELA FALCÃO
ENVIADA ESPECIAL A MINAS GERAIS

Um aplicação do ditado de que a união faz a força está permitindo que municípios pequenos consigam dar atendimento de qualidade e sofisticado na área da saúde.
Trata-se dos consórcios, que estão revolucionando o atendimento hospitalar e são vistos pelo governo federal como solução na administração de verbas públicas.
A sistemática é simples: cidades vizinhas juntam suas verbas para a saúde e constroem um hospital de referência para toda a região (com sede em um deles) ou centros por especialidades nos municípios.
Com isso, cidades do interior com menos de 10 mil habitantes possuem prontos-socorros funcionando 24 horas por dia e hospitais públicos equipados com aparelhos de última geração -como tomografia computadorizada e densitometria óssea. Além disso, pequenos municípios acabam virando referência nacional, como Iguatama (cidade de 8.500 habitantes no norte de MG), especializado em doenças oculares.
Sozinhos, esses municípios não teriam demanda de serviços nem recursos para ampliar seus hospitais e evitar a velha tradição de enviar os doentes para a capital.
Pelo menos nove Estados já têm municípios agrupados em consórcios. São Paulo é o pioneiro, mas foi em Minas que a experiência se alastrou mais rapidamente. Hoje são 57 consórcios, envolvendo 620 cidades. A "forma milagrosa" para administrar a escassez de recursos encantou o governo federal, que já estuda a criação de um mecanismo para aumentar o número de consórcios no país (leia abaixo).
Contrariando as usuais reclamações de que o atendimento na rede pública é ruim porque o dinheiro repassado pelo governo federal é pouco, os prefeitos dos municípios consorciados garantem que a verba é suficiente.
O "milagre da multiplicação de verbas" é simples. Os hospitais dos consórcios produzem muito, porque atendem de maneira eficiente a um grande número de pessoas. Por isso, terminam faturando muito do SUS -que repassa verbas aos hospitais com base na quantidade de serviços prestados.
Os hospitais dos municípios consorciados são mais eficientes também porque foi montado um sistema de triagem em que só são enviados aos hospitais os pacientes que realmente precisam.
Antes de se dirigir ao especialista no hospital regional, o paciente do consórcio tem de passar pelo posto de saúde de seu município (a menos que se trate de emergência). Ele só é enviado ao hospital se o médico que fez o primeiro atendimento constatar que o paciente precisa de exames sofisticados.
O maior entrave à formação dos consórcios é a dificuldade dos prefeitos de partidos diferentes em montar uma associação que beneficie todos, embora só um deles vá ficar com o hospital. O problema é que todos dão a mesma contribuição -uma porcentagem da verba repassada do SUS ou do Fundo de Participação dos Municípios.

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