São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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'Exportar' doente cria distorção

DA ENVIADA ESPECIAL

A velha política de enviar os pacientes das cidades do interior para a capital criou uma grande distorção nos valores per capita repassados pelo governo federal aos municípios.
Cerca de 38% dos 8,8 bilhões distribuídos pelo governo federal para cobrir os gastos com atendimento ambulatorial e internações hospitalares vão para 210 municípios. Os 4.700 restantes têm de se contentar com os 62% que sobram.
Isso acontece porque quase toda a estrutura hospitalar está concentrada nas capitais e regiões metropolitanas. Como o SUS (Sistema Único de Saúde) paga por serviços executados, os hospitais das capitais -que têm uma demanda maior- faturam mais.
O hábito das prefeituras do interior de enviar seus doentes para hospitais dos grandes municípios só reforça a distorção na distribuição de verbas, porque mantém o interior desaparelhado. Em geral, as capitais recebem duas vezes mais verbas por habitante do que as cidades do interior. Santa Catarina e Pernambuco têm as distorções mais graves.
Em Recife, o piso per capita repassado pelo SUS é de R$ 63. No interior do Estado, a média é de R$ 35. A situação em Santa Catarina é ainda mais desigual: Florianópolis recebe R$ 166 per capita do governo federal, enquanto o interior fica com minguados R$ 37.
A criação dos consórcios intermunicipais diminui a distorção, porque cria nas cidades do interior uma estrutura hospitalar de alta complexidade e evita que pacientes sejam transferidos desnecessariamente para a capital.
Em Minas Gerais, a proliferação dos consórcios já está surtindo efeitos na distribuição de recursos, diminuindo a defasagem entre capital e interior. Enquanto Belo Horizonte fica com R$ 72 per capita, o interior recebe R$ 42.
São Paulo é uma das poucas exceções. Muitas cidades do interior do Estado têm piso per capita superior ao da capital. É o caso de Cajamar, que recebe R$ 89 per capita, enquanto São Paulo fica com R$ 59 e Itaquaquecetuba (na região metropolitana), R$ 9.
Segundo Barjas Negri, secretário-executivo do Ministério da Saúde, São Paulo é exceção porque os municípios do interior sempre tiveram força política, conseguindo verbas para equipar os hospitais e evitando que toda a estrutura ficasse concentrada na capital.

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