São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Carona em marca alheia

HELCIO EMERICH

Em 1991 o artista gráfico norte-americano Michael Stanard resolveu largar sua condição de free-lancer para montar um negócio próprio. Ele tinha algum prestígio como criador de marcas comerciais e seu maior sucesso foi o desenho do logotipo Louisville Suggler para uma fábrica de bastões de beisebol (o que, por tabela, lhe deu também alguns conhecimentos de marketing).
Stanard achou que a semelhança do seu apelido (Mike) com o nome Nike poderia lhe render uma carona na propaganda da multinacional de artigos esportivos. Desenhou então um logotipo com a palavra Mike, uma espécie de paródia gráfica da marca Nike, mas tão parecida com o logo do "concorrente" que à primeira vista ninguém conseguia distinguir um do outro.
A seguir, lançou uma linha de camisetas e agasalhos esportivos que foram colocados à venda, respectivamente, por US$ 20 e US$ 40. Para promover sua griffe, o artista começou mandando folhetos promocionais a pessoas que tinham Michael como primeiro nome, nos subúrbios de Chicago, onde ele morava.
Depois, passou a enviar mala direta para atletas de colégios e celebridades com o mesmo nome. Chegou a relacionar consumidores que tinham amigos com o apelido de Mike para sugerir suas roupas como presente. Sua firma foi registrada como "Just Did It Enterprise", num outro plágio bem-humorado do slogan da Nike ("Just Do It").
Como se podia prever, a Nike não achou nenhuma graça na iniciativa de Michael. De 1977 a 1991, a empresa havia investido mais de US$ 300 milhões em campanhas publicitárias para promover sua marca e torná-la conhecida mundialmente. Entrou com um processo na Justiça acusando o intruso de confundir o consumidor e de se beneficiar do prestígio do nome Nike.
Tudo levava a crer que Stanard seria obrigado a desistir da sua aventura. De fato, ele perdeu a causa em primeira instância num tribunal de Chicago. Mas, ao recorrer, Mike alegou em sua defesa que seus produtos não passavam de uma brincadeira com a imagem da Nike, um nome que havia se transformado em "fenômeno social", sujeito, portanto, a ser satirizado.
Mostrou gravações em que famosos apresentadores da TV norte-americana como Jay Leno e David Letterman faziam piadas com várias marcas, incluindo a Nike. Argumentou ainda que o consumidor não estava sendo enganado, já que seus produtos só eram vendidos pelo correio e não lado a lado, nas lojas, com os artigos da Nike (o material promocional da Mike deixava claro que as roupas não passavam de uma paródia).
Para surpresa geral, Stanard ganhou o segundo round de uma briga que ainda não terminou. A Corte concluiu que marcas de projeção nacional ou mundial têm que aceitar uma certa dose de sátira, da mesma forma que um artista, um político ou qualquer outra celebridade.

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