São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Jodie Foster deixa a Terra em "Contato"

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

Apontada como o QI mais alto a passar pela frente de uma câmera de cinema vestindo saias, Jodie Foster chega aos 34 anos com dois Oscar, dois créditos como diretora e um diploma de literatura em Yale sem deixar para trás o ar de menina que conquistou o mundo há duas décadas por "Taxi Driver".
Sentada numa sala de reuniões do hotel Four Seasons em Los Angeles, suas mãos brincam ritmadamente com papéis enquanto seus famosos olhos azuis miram a luz que transforma as cortinas cerradas da janela numa ofuscante tela em branco.
Ela se afirma dedicada a desmistificar sua imagem de mulher inteligente e quer fazer em breve uma comédia romântica.
"Durante entrevistas, as pessoas me perguntam coisas secas, intelectuais", diz ela.
"E eu respondo secamente, intelectualmente. Mas qualquer um de nós é diferente em situações profissionais e no campo pessoal. A idéia de uma entrevista é muito artificial. Como poderia ser real se apenas um dos lados faz as perguntas?".
Instigada então a perguntar o que quiser, ela se recusa. "Eu me apegaria emocionalmente e não poderia ir embora", brinca ela, flexionando sua voz rouca.
Ao contrário da atriz, no filme que chega esta semana aos cinemas dos Estados Unidos, sua personagem exagera no desapego emocional e, sem pestanejar, deixa a Terra em uma nave construída com plantas enviadas por meio de ondas de rádio por seres que habitam a distante estrela Vega.
Interpretando a astrônoma Ellie Arroway em "Contato", a atriz dá vida a uma ficção científica escrita por Carl Sagan há 17 anos.
*
Folha - O que a fez aceitar este papel?
Jodie Foster - Sei que é uma idéia clássica, mas adoro quando a heroína inicia esta jornada para descobrir as origens do universo e pensa que vai distanciar-se de si mesma ao fazê-lo. Mas descobre que a tal jornada é interior.
Adoro essa idéia que aparece em vários momentos de minha carreira, como em "O Silêncio dos Inocentes".
Folha - Você tem acompanhado a evolução da missão a Marte?
Foster - Sim, claro. É demais, não é? Eu adoro pegar o jornal e admirar as imagens.
Folha - Mas parece o deserto do Arizona...
Foster - Sim, é verdade. Mas sempre soubemos que seria assim.
Folha - Você acredita na possibilidade de haver vida em outro planeta?
Foster - Acho que seria bobo e arrogante pensar que esta minúscula amostra de planeta encravada na imensa e miraculosa tapeçaria universal é a única coisa.
É possível, pois não temos informações suficientes, mas há chances de não estarmos sós.
Eu apostaria nessas chances.
Folha - Nesse final de milênio muitos se questionam sobre o destino do nosso planeta. O que você pensa disso?
Foster - Acho que uma das melhores coisas decorrentes desse fenômeno é a diminuição do estranhamento entre ciência e religião. Vivemos num país que acredita que ciência e religião não podem coexistir, que uma tira o território da outra.
A verdade é que ambas buscam a mesma resposta para a verdade, o sentido da vida, de onde viemos e para aonde vamos.
Suas metodologias são bastante diferentes, mas podem usar a mesma filosofia.
Folha - E qual filosofia você usa? Você é espiritual?
Foster - Totalmente científica. Mas respeito muito a religião e passei muito tempo estudando textos divinos na faculdade.
Folha - Como foi o encontro com Carl Sagan?
Foster - Nos encontramos na casa dele, onde ele estava se recuperando de uma cirurgia.
Ele era apaixonado e romântico sobre sua vida intelectual, que é uma combinação estranha. Ele me inspirou.

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