São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
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Zulema acusa governo pela morte de filho

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

Zulema Yoma, ex-mulher do presidente da Argentina, Carlos Menem, acredita que a morte do filho foi planejada dentro do próprio governo do seu ex-marido.
Carlos Menem Júnior morreu em 15 de março de 1995, após o helicóptero que ele pilotava cair na localidade de Ramallo, a cerca de 300 quilômetros de Buenos Aires.
A mãe de "Carlitos" defende a hipótese de atentado. Oficialmente, a queda do helicóptero foi um acidente. Na semana passada, peritos do governo que analisaram restos da aeronave encontraram substâncias químicas utilizadas na construção de munição para armas de fogo.
"Alguém bem perto do presidente colaborou para atentar contra a vida do meu filho", disse.
Quando morreu, "Carlitos" era assessor pessoal de Menem e responsável por sua agenda. Zulema Yoma acredita que seu filho "molestava pessoas na Casa Rosada".
A seguir, trechos da entrevista concedida ontem à Folha.
*
Folha - A sra. pediu a "Carlitos" para deixar a assessoria do presidente Menem. Há algum vínculo entre essa função e sua morte?
Zulema Yoma - Sempre disse que a agenda do presidente era maldita, pois ela só nos trouxe dor de cabeça. No início da campanha da reeleição (1995), "Carlitos" me disse que estavam traindo seu pai e que não gostava das coisas estranhas e sujas que estava vendo. Foi aí que eu disse a ele para acabar com esse trabalho e se afastar da Casa Rosada. Ele odiava a política, mas resolveu permanecer. Lamentavelmente, passou o que passou.
Folha - Quem sustenta a versão do acidente alega que ele estava voando de forma irresponsável e que havia consumido drogas.
Zulema - Essa é a versão oficial. Mas meu filho não bebia e não fumava. Era um rapaz saudável. Outras versões oficiais me colocaram como uma senhora demente, "Carlitos" como um rapaz da noite e Zulemita (sua filha) como uma menina caprichosa. Trataram de deteriorar nossa imagem.
Folha - A morte de "Carlitos" seria uma represália contra os atentados sofridos pela comunidade judaica na Argentina?
Zulema - Não posso acusar ninguém que venha de fora do país, pois sem ajuda local não se pode atacar. É por isso que começo a investigar em minha própria casa.
Folha - Poderia ter sido um atentado feito por narcotraficantes?
Zulema - Matar o filho de Carlos Menem foi matar o presidente. Trata-se de interesses muito grandes: armas e drogas movem os principais interesses do mundo na atualidade. As máfias mataram meu filho para prejudicar o presidente, e é por isso que custa muito a esse governo reconhecer que "Carlitos" sofreu um atentado.
Folha - Como é a conduta de Menem nesse caso, como presidente e como pai?
Zulema - Não o vi atuar como presidente da República. Ele já disse que "Carlitos" não volta mais e que precisa continuar sendo chefe de Estado. Aí está a diferença entre a sua atitude, como presidente, e a minha, como mãe. Ele continua sendo chefe de Estado, e eu continuo em busca de uma verdade.

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