São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 1997
Próximo Texto | Índice

SONHO E PESADELO

Além de contribuir para a discussão sobre desenvolvimento, o estudo "O Brasil na Virada do Século", do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), procura dar uma resposta à grande questão econômica atual: em que condições será possível corrigir o desequilíbrio externo.
A análise prevê uma estabilização da dívida externa só em 2006. E, para chegar a isso, tem de assumir hipóteses bastante favoráveis sobre o desempenho dos demais indicadores da economia brasileira e mundial.
O Brasil estaria em uma trajetória de aceleração paulatina do crescimento, chegando a 7% do PIB entre 2004 e 2006. Isso ocorreria em um cenário de superávit primário nas contas públicas e queda dos juros. As exportações seriam vigorosas, atingindo uma taxa de 11,6% ao ano entre 2000 e 2002. E as importações continuariam a aumentar, porém a um ritmo cada vez menor, contendo assim o déficit comercial.
A primeira conclusão é que se trata de um quadro quase idílico, pintado com o compreensível otimismo de um instituto ligado ao Ministério do Planejamento, por mais sérios que sejam muitos de seus técnicos. Se fosse só isso, bastaria dar um "desconto" -de resto necessário à maioria das previsões oficiais em qualquer parte do mundo- e a análise poderia simplesmente ser usada como um dos parâmetros para orientar decisões econômicas que dependam de prognósticos de longo prazo.
Mas, implicitamente -e talvez até involuntariamente- o estudo diz mais. Afinal, antes de chegar a 2006, o Brasil tem de enfrentar desafios bem mais próximos. E aí está o pesadelo. A crise na Ásia veio lembrar que as nações que mantêm um grande déficit externo por vários anos estão expostas a um apreciável risco de fuga de capitais e crise cambial.
O estudo conta com uma evolução muito favorável do ambiente econômico mundial para que o Brasil faça a travessia até 2006. Não é difícil concluir que, caso algum desses fatores tenha desempenho aquém do esperado, a situação das contas externas pode ficar complicada. O Ipea acabou mostrando que a ponte entre 1997 e 2006 é estreita.

Próximo Texto: SAÚDE URGENTE
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.