São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Sem-terra do Rio rejeitam teses de rebelião e socialismo

Militantes acampados na cidade discordam do líder Stedile

MÁRIO MOREIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Militantes sem terra do Estado do Rio rejeitam a proposta do líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile de uma rebelião popular contra o governo.
A idéia foi lançada por Stedile na última sexta-feira, durante palestra na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), conforme noticiou ontem o "Jornal do Brasil".
Segundo ele, é preciso descobrir "bandeiras mágicas" para mobilizar o povo e rebelá-lo contra o governo.
O modelo de bandeira, afirmou Stedile, seria o lema "Pão, paz e terra", usado pelos bolcheviques na Revolução Russa (1917), que implantou o socialismo na Rússia.
Os bolcheviques (do russo "bolshevik", que significa maior, maioria) formavam a ala majoritária do Partido Operário Social Democrata russo, que, sob a liderança de Lênin, comandou a revolução na Rússia.
Sem apoio
Todos os sem-terra acampados desde sexta-feira no largo de São Francisco (centro do Rio) e ouvidos ontem pela Folha mostraram-se contrários à proposta.
"Não precisa nada disso", afirmou Miguel Ângelo Magon, 38. "Basta conscientizar a sociedade de que a luta pela reforma agrária é em benefício de todos. Só falta pôr em prática o que já está no papel."
"Concordo que a gente precisa de mais pessoas participando, mas rebelião é uma coisa mais difícil, porque significa mortes. Estamos só reivindicando o nosso direito", disse Jocélia Leandro, 43.
"Até onde sei, o MST é um movimento pacífico, que não pretende derrubar ninguém. Até porque sabemos que não somos maioria", afirmou Gladyson Pereira, 29.
O sem-terra Édson França, 64, se assustou com a referência ao exemplo bolchevique. "Queremos cultivar a terra em paz. Esse negócio de comunismo não é para o Brasil. Acho que já deu errado na Rússia, né?"
Acampados desde sexta-feira no largo de São Francisco, onde fica a sede regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), cerca de 400 sem-terra ameaçam invadir o órgão caso, até o fim da semana, não haja soluções para a desapropriação de três fazendas do interior (em Barra Mansa, Campos e Silva Jardim).
O superintendente regional do Incra, Fernando Scotti, alega que os três casos dependem de pendências judiciais e administrativas.
José Ribamar Alves, líder dos sem-terra acampados, disse que falta ao Incra "vontade política" para resolver os impasses.

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