São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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A vida responde

JANIO DE FREITAS

Duas revelações são particularmente importantes, na pesquisa Datafolha sobre a crise das PMs, pelo inesperado e pelo que permitem entrever, se não até mais do que isso, de modificações induzidas em conceitos longamente enraizados na população.
A opinião quase unânime de que são justas as reivindicações de correção salarial, por parte das polícias, apenas confirma que os julgamentos públicos, quando há informação correta como houve a respeito dos salários em questão, não fogem ao bom senso óbvio. Já o apoio total ou condicionado de 81% da população às passeatas, como recurso de protesto e reivindicação até mesmo de policiais militares e civis, não surpreende só pelo índice tão elevado.
Só esses 81% são suficientes para atestar a generalização da idéia de que os recursos, digamos, "dentro da ordem" não são mais capazes de levar os governantes a atentar para as reivindicações sociais, por mais justas que sejam. Mas aos 81% segue-se outro número eloquente: 60% consideram que os policiais têm o direito de fazer greve. Só 37% acham, ainda, que as polícias têm atividade essencial e, por isso, incompatível com greves.
Se os policiais fossem um contingente profissional simpático aos olhos da população, seria necessário admitir boa dose de solidariedade emocional nas respostas. Não é o caso. O conceito das polícias continua tão ruim, que 51% da população chegam a ter mais medo do que confiança em policiais civis e 56% têm o mesmo sentimento em relação às PMs.
É possível que haja várias causas para o apoio tão amplo à insurgência das polícias contra os governantes e, sobretudo, contra as leis que restringem os seus direitos de classe profissional. Entre as causas, com certeza está, e na posição destacada, a igual amplitude da insatisfação com o próprio salário, com as correções insuficientes ou inexistentes, com o medo do desemprego ou já com a vida de desempregado, com a aposentadoria miserável, com a apreensão pelas incessantes ameaças de piores condições na aposentadoria atual ou por vir. E, revestindo toda essa inquietação, o sentimento de total falta de defesa diante das decisões dos poderes, a percepção de estar à margem do interesse governamental.
Em São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Florianópolis, Goiânia, Maceió e Campo Grande o Datafolha fez perguntas sobre a crise das polícias e os entrevistados responderam sobre o Brasil, os governantes, a política social, a política econômica.

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