São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Hospitais e os planos de saúde

ELEUSES VIEIRA DE PAIVA

A imprensa tem noticiado nas últimas semanas o rompimento de vários hospitais com empresas operadores de planos de saúde. Isso vai causar sérios prejuízos aos pacientes e usuários dos planos, que não mais contarão com serviços de hospitais de primeira linha.
Em nome do compromisso ético dos médicos com a saúde dos 40 milhões de brasileiros atendidos pelos planos privados de saúde hoje no país, os fatos devem ser esclarecidos.
Os planos de saúde correspondem ao setor da economia que mais lucrou nos últimos anos, com crescimento bem acima da inflação. Muitas dessas empresas operadoras de planos de saúde ainda têm imunidade tributária e outras sonegam impostos, como denunciou recentemente o Ministério Público.
Na falta de regulamentação para o setor, os planos impõem limitações de todo tipo e excluem do atendimento diversas doenças e procedimentos. Os aumentos abusivos das mensalidades dos planos de saúde, conforme centenas de denúncias no Procon e no Idec, nada têm a ver com os honorários médicos, que representam menos de 20% na composição das planilhas de custos.
A maioria dos planos de saúde paga ao médico R$ 20 por consulta. Isso vale para qualquer tipo de plano (executivo, "top", "quality" etc.). Apesar de existir uma tabela referencial dos médicos, onde a consulta vale R$ 39, o profissional chega a receber até R$ 12. Mesmo assim, precisa esperar 45 dias em média para receber.
O atendimento hospitalar oferecido é um dos pontos mais considerados pelo usuário ao escolher um convênio médico. Mas, na prática, os planos de saúde tentam impedir o acesso a esses hospitais que tanto anunciam. Não hesitam, para isso, em prometer melhor pagamento ao médico que encaminhe seus pacientes a instituições de menor categoria ou, até mesmo, em descredenciar profissionais que requisitem internações em hospitais mais qualificados.
O mau pagamento e o descredenciamento de médicos são os principais motivos que têm levado o corpo clínico de hospitais importantes a cancelar contratos de prestação de serviços.
A Associação Paulista de Medicina, juntamente com Conselho Regional de Medicina e sindicatos médicos de São Paulo, vem tentando negociações com as empresas no sentido de evitar a desassistência em massa aos usuários de planos de saúde. Não podemos admitir a ação de empresas que, em nome do lucro, mercantilizam a saúde, exploram médicos e comprometem a vida dos pacientes.

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