São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Brasil pode extraditar inglês Ronald Biggs
PAULO HENRIQUE BRAGA
Biggs, 67, vive atualmente no Rio de Janeiro. Ele participou em 1963 do assalto a um trem do correio, considerado na época o maior da história do país. A quadrilha levou uma quantia equivalente hoje a US$ 50 milhões. O condutor do trem, espancado pelos assaltantes, morreu sete anos depois, por causa de sequelas. Preso e condenado a 30 anos de prisão, Biggs conseguiu fugir da cadeia depois de cumprir apenas 15 meses da sentença. O assaltante afirmou que vai tentar evitar a extradição com todos os recursos legais possíveis mas, se não tiver êxito, não fugirá. "Se o governo brasileiro decidir que eu tenho de voltar, voltarei", afirmou à rádio BBC. Uma porta-voz do Ministério do Interior britânico confirmou à Folha que o acordo de extradição entre Brasil e Reino Unido deve ser implantado no início do mês que vem, mas não quis comentar o caso de Biggs. O assaltante foi descoberto em 1974 no Rio de Janeiro por um repórter de um tablóide britânico. Na época, a amante de Biggs, Raimunda de Castro, estava grávida. Com um filho brasileiro e sem um acordo de extradição, Biggs passou a ter a proteção da lei brasileira e não pôde ser mandado de volta para o Reino Unido. O filho de Biggs, Mike, tem hoje 23 anos, e o foragido não pode mais alegar que possui um dependente em solo brasileiro para evitar sua extradição. Mike Biggs fez carreira na década de 80 como astro infantil, integrando o grupo Balão Mágico. Ao longo dos anos, Biggs tem irritado as autoridades britânicas por causa de sua postura nada discreta. Em 1978, participou de um filme e da gravação de um disco com o grupo de punk rock britânico Sex Pistols. Foi dono de uma casa noturna no Rio, lançou uma autobiografia, vendia camisetas promocionais suas e organizava encontros com turistas que quisessem conhecê-lo. Bruce Reynolds, tido como o cabeça da quadrilha que assaltou o trem, disse que pretende reencontrar Biggs se ele voltar ao Reino Unido. Reynolds afirmou que o foragido teve um papel secundário na ação. Ministério O Ministério das Relações Exteriores informou ontem que não houve qualquer pedido recente por parte do Reino Unido para a extradição de Ronald Biggs. Em 95, foi assinado um acordo geral de extradição entre os dois governos. O acordo foi aprovado pelo Congresso brasileiro, mas nunca foi ratificado pelo Reino Unido. O maior entrave é que o Brasil exige o princípio de reciprocidade, que não era aceito pelo governo britânico. Segundo o Itamaraty, não há notícias de que o Reino Unido tenha ratificado o acordo. Mesmo que ele tivesse sido ratificado, a extradição de Biggs teria de ser novamente pedida, o que não aconteceu, de acordo com o ministério. Texto Anterior: Professor Castro e a caça às bruxas solitárias Próximo Texto: Música e turismo atraíram Biggs para o RJ Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |