São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Autora quer fazer agora "Jane for a Day", com homens

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"To My Dick". Essa é a dedicatória impressa no livro de Fiona Giles. Antes de conclusões erradas: o Dick da homenagem é o marido da escritora, Richard Andrews (em inglês, Dick, além de significar pênis é o apelido para Richard).
Giles é formada em Oxford, ensina literatura, colabora para várias publicações australianas e norte-americanas e agora se dedica a escrever um novo livro, com o título provisório "Jane for a Day".
Ela falou à Folha por telefone de sua casa em Sidney, na Australia. Leia a seguir trechos da entrevista.
(PD)
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Folha - Por que fazer um livro sobre o pênis?
Fiona Giles - Trata-se de um assunto sobre o qual todas as mulheres já devem ter pensado uma vez na vida. Não apenas sobre como seria ter um pênis, mas o que aconteceria se ela fosse um homem, como seria tratada.
Folha - Foi difícil escolher as escritoras e convencê-las?
Giles - De jeito nenhum. Foi interessante porque eu não conhecia muita gente naquela época. Fui até uma livraria e procurei escritoras que eu achava interessantes, de quem eu conhecia o trabalho. Até mesmo antes de eu ter um contrato, algumas delas me responderam dizendo que adorariam escrever, o que me encorajou muito.
Folha - Como definiria o perfil das escritoras?
Giles - Procurei mulheres que já haviam escrito sobre sexo e mulheres engraçadas. Essa foi minha lista. Em geral, tendem a ser as jovens escritoras, que já publicaram, tiveram algum sucesso. Quanto mais famosa, mais difícil se envolverem num projeto como esse.
Folha - Do que mais gostou?
Giles - Uma das coisas que me gratificaram é que as mulheres têm tantas respostas diferentes. Ao mesmo tempo há coisas recorrentes no livro, por exemplo, muitas mulheres querem ter certeza que o equipamento funciona, outras querem estar em público, querem experimentar sua persona pública.
Folha - A sra. teve dificuldades para conseguir editor?
Giles - Sim. As pessoas diziam que adoravam o título mas depois diziam que seria difícil de vendê-lo. Levou um tempo até eu encontrar o editor certo, alguém forte para dizer: 'não se preocupe, nós podemos fazer isso'.
Folha - Há diferenças entre as americanas e as australianas?
Giles - Os trabalhos das escritoras de Nova York são mais sombrios, elas encontraram uma oportunidade de criticar o comportamento masculino. Os de San Francisco são muito mais leves, e a tendência é de histórias bem-humoradas. Em Sidney, durante leituras abertas do livro, percebi que os textos das australianas têm uma terceira característica. Há uma mulher, por exemplo, que fantasia ser um cachorro. Elas parecem ser mais estranhas. É uma questão de mexer mais com sexualidade.
Folha - Qual é sua história preferida?
Giles - Uma que eu recomendo é "Fun Dick", de Mary Mackey. É o relatório de uma consumidora sobre o pênis que ela recebeu pelo correio e que usa, entre outras coisas, para bater claras em neve.
Folha - Na introdução a sra. cita Camille Paglia, dizendo que, se tivesse um pênis, ia correndo procurar Catherine Deneuve.
Giles - Camille Paglia é um bom exemplo de uma mentalidade masculina. Eu gostaria de citar outras pessoas. Madonna disse que no livro "Sex" que tinha um pênis no cérebro e, por isso, não precisava de um entre suas pernas. Mas não consegui sua autorização.
Folha - A sra. acha impossível para um homem imaginar como uma mulher se comportaria?
Giles - Diria que é difícil. E em geral eles ficam interessados por esse livro para saber o que as mulheres pensam e como se comportariam, mas eles não entendem realmente porque tanta discussão sobre o caso. E eu realmente acho que é uma falta de imaginação da parte dos homens.

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