São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997![]() |
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"Kissed" dá tom limpo à necrofilia
AMIR LABAKI
Mais uma vez o bizarro vem do Canadá. Assim como "Crash" de David Cronenberg, "Kissed" (Beijada) trata de comportamentos sexuais atípicos. O caso agora é a necrofilia. Ao contrário de Cronenberg, a estreante Lynne Stopkewich optou por uma narrativa tradicional e um tratamento absolutamente "clean". Desde adolescente Sandra Larson (Molly Parker, uma revelação) excita-se com a morte. Nada mais natural que vá trabalhar numa casa funerária, aprendendo o ofício do embalsamento de cadáveres. Sandra une, assim, o útil ao agradável. De dia, prepara corpos de jovens para os rituais fúnebres. À noite, como uma antivampira, extrai vida e prazer dos defuntos que retocou. É macabro sim, mas Stopkewich evita o tom grave dos filmes de perversão, rodando tudo com notável leveza. Baseado num conto autobiográfico de Barbara Gowdy, a cineasta partilha com o texto original a cumplicidade pela opção sexual da protagonista. "Kissed" chega a ser anti-séptico demais para fazer frente ao próprio potencial mórbido. Um filme tão particular merecia uma trama mais elaborada. Sandra acaba por apaixonar-se por um ex-estudante de medicina (Peter Outerbridge), com quem perde a virgindade. O sexo com os vivos a decepciona e, obviamente, o impotente namorado potente busca a mais extrema solução para garantir seu posto. Rodado em Super-16mm, com um orçamento baratíssimo, "Kissed" conseguiu abrir as portas do cerradíssimo mercado norte-americano. Longe da obra-prima, é desses momentos de surpresa mais e mais raros nos cinemas. Filme: Kissed - Cerimônia do Amor Direção: Lynne Stopkewich Roteiro: Angus Fraser e Lynne Stopkewich, a partir do conto de Barbara Gowdy Com: Molly Parker, Peter Outerbridge Quando: Hoje às 17 e 21h no Cinema São Luiz 2, no Rio; amanhã, 22h, no Espaço Unibanco 3, em São Paulo Texto Anterior: "Socorro Nobre" vai a Paris Próximo Texto: Zé Ricardo lança CD no Bourbon Índice |
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