São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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DEPOIS DA GREVE

O general Alberto Cardoso, chefe do Gabinete Militar da Presidência, admitiu na semana passada que a crise das polícias militares, a caminho de se encerrar, foi a mais grave na história da corporação.
Coerente com essa avaliação, o general sugere que se faça um estudo profundo para reformular as PMs, mas disse que o melhor momento para tanto será "depois que a crise passar".
O general acerta na primeira parte, mas erra na segunda. Na verdade, o "melhor momento" teria sido antes da eclosão da crise. A ninguém é dado ignorar que a política brasileira de segurança pública é um fracasso retumbante já antigo e que os fatos recentes apenas tornam exponencial.
Foi um erro -e gravíssimo- esperar que o tumor vazasse, na forma de uma afronta à Constituição (que veda greves de PMs) e de desacato frontal à autoridade dos governadores.
Igualmente grave é permitir que os grevistas saiam impunes da aventura armada que promoveram. Esse tipo de leniência é um convite aberto para que os execráveis episódios dos últimos dias se repitam no futuro.
Por isso mesmo, torna-se urgente o estudo sobre a reformulação das PMs sugerido pelo general Cardoso. Não é admissível que a sugestão caia no vazio, apenas porque as greves vão se encerrando.
O Ministério da Justiça criou até um grupo de trabalho que está avaliando a situação das polícias, tanto a militar como a civil. Não é aceitável que se transforme em mais uma iniciativa destinada apenas a adiar a solução de problemas delicados, como ocorre frequentemente na história do serviço público brasileiro.
Estão sobre a mesa algumas propostas de reformulação do aparelho policial, a mais radical das quais apresentada pelo governador Mário Covas (SP), prevendo a fusão da PM com a Polícia Civil.
É claro que a delicadeza do tema impede que se aja com açodamento nessa matéria. Mas tampouco cabe contemporizar.

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