São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O grande irmão

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

Outro dia queria achar o telefone de um amigo. Com preguiça de sair da frente do computador para pegar a "Lista Telefônica", tentei alguns programas de busca -só por hábito, mesmo achando que não ia dar em nada.
Descobri não só o telefone do meu amigo, como o nome dos seus pais, seu endereço completo, uma carta que ele tinha mandado para um jornal anos atrás, um prêmio que ele tinha ganho na faculdade e até um pequeno currículo seu -com foto- que a empresa onde ele trabalha tinha colocado no ar. O detalhe é que meu amigo nunca tinha mandado um e-mail na vida.
Ele ficou abismado. Nunca tinha passado dois minutos na Internet, e lá estava essa quantidade toda de informação pessoal, incluindo uma carta que ele mal se lembrava de ter escrito e um prêmio que tinha ganho havia anos.
Privacidade
A falta de privacidade que as máquinas podem nos proporcionar já não é muita novidade.
Somos filmados no farol, no caixa eletrônico, estamos em centenas de bancos de dados de telemarketing, pessoas estranhas nos ligam na hora do jantar para vender seguros e oferecer contas em bancos.
A inversão econômica propiciada pela Internet acelera doidamente esse processo. Publicar e distribuir informação sempre foi caríssimo e complicado.
Na rede, é ridiculamente barato e simples. Imagine que em 1995 mal se achava alguma coisa sobre o Brasil na Web. Dois anos depois, com um pouquinho de paciência, já se garimpa em minutos os dados pessoais de milhares de brasileiros.
Meu amigo, por exemplo. Passou por uma faculdade pública, que não viu grande mal em publicar seu endereço completo, junto com a divulgação de seu prêmio. Sua empresa fez o mesmo com o resumo de seu currículo e assim por diante.
O problema é que temos muito pouco controle sobre esse processo. É como um colar de contas que se quebra e nunca mais as recuperamos. E a tendência é que fique cada vez mais fácil e barato publicar e procurar dados.
Programas bisbilhoteiros
Para complicar, alguns programas novos, e outros nem tão novos assim, servem exclusivamente para bisbilhotices.
O finger e o whois, recursos que já vêm no sistema operacional Unix, servem para localizar nomes de pessoas que estão usando a Internet e quais domínios foram registrados por determinada empresa.
O ICQ é uma versão moderna do finger. Você pode configurá-lo para que seus amigos o encontrem na rede -mas pode se tornar um estorvo quando você está a fim de sossego.
O novo Assentor é o mais sinistro de todos. Serve unicamente para monitorar mensagens cujo conteúdo possa ser considerado racista, obsceno ou ameaçador.
Boatos e fofocas
Segundo o fabricante, o Assentor pode até monitorar boatos e fofocas, por meio de análise de padrões linguísticos. A idéia é vendê-lo para empresas financeiras que queiram vigiar a correspondência de empregados.
Veja alguns programas e sites "big brother":
Deja News (http://www.dejanews.com/): arquiva grupos de discussão;
Assentor - (http://www.sra.com): monitora trocas de mensagens (está em teste);
Yahoo People Search (http://www.yahoo.com /search/people/): lista de e-mails, telefones e endereços;
ICQ (http://www.mirabilis. com);
International Telephone Directories (http://www.infobel. be/infobel/infobelworld.html): listas telefônicas internacionais.

E-mailnetvox@uol.com.br

Texto Anterior: CLIPE
Próximo Texto: Tadeu Jungle expõe arte de uma frase só
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.