São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Tadeu Jungle expõe arte de uma frase só

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

A exposição que Tadeu Jungle abre hoje na Valu Oria Galeria de Arte não tem nenhuma relação com Tom Jobim. Mas a mostra do artista multimídia segue, ao seu modo, a receita do autor de "Samba de Uma Nota Só".
A exposição de uma frase só de Tadeu Jungle foi construída em torno de um bordão: "Você Está Aqui".
Telas, copos, gravuras, camisetas e outros objetos trazem o mesmo quadrado vermelho preenchido com essa frase.
Antes mesmo de chegar à galeria, o misto de exposição, "happening" e instalação já estava circulando em forma embrionária.
Jungle imprimiu milhares de adesivos que reproduziam a tradicional frase de mapas de localização em shoppings, parques, rodoviárias... ("você está aqui").
Foi uma volta ao seu ninho artístico. Ele sempre é associado ao vídeo -mídia com a qual não trabalha artisticamente desde 87-, mas foi no intercâmbio da poesia com as artes gráficas que começou, nos anos 70.
Paredes
Inicialmente, Jungle grafitava frases como "Fure a Fila" ou "Passe a Mão" nas paredes. Depois, esses "lemas" viraram adesivos, que eram grudados subversivamente em camisetas de passantes, em postes ou janelas. Agora ele retomou o processo.
Jungle distribuiu "vocêestáaquis" em vários lugares."O adesivo é uma pele que gruda e transforma o objeto", explica o artista.
"Aqui e agora. Quase nunca temos tempo/espaço (ou sabedoria) para refletir sobre esse momento... zen", escreve o artista em texto sobre a mostra.
A intenção da frase seria, segundo Jungle, quebrar com o aspecto rotineiro do cotidiano. "Aponta para uma reflexão sobre o espaço (aqui), em um determinado momento (agora)."
Seguindo a tradição da obra aberta, Jungle espera que cada um crie uma interpretação própria.
No domingo passado, Jungle distribuiu adesivos no Ibirapuera. Depois de receber um deles, um senhor perguntou: "É campanha de seguros?".
"Ele pensou que o adesivo questionava onde você estaria no futuro", diz o artista multimídia.
Esse "estranhamento" é um dos objetivos centrais de Jungle.
Inspirando-se em Marcel Duchamp (1887-1968), pioneiro em trazer objetos cotidianos para os museus, Jungle questiona: "o que é arte hoje?", "onde o ato vira arte?", "onde a frase vira poesia?".
Materializando a poesia em objetos do cotidiano, preenchendo uma galeria com apenas uma frase, Jungle aponta que a arte contemporânea se estrutura em idéias, percepções e sacadas.
E ele não se furta em revelar que sua mão não passou por nenhum dos objetos da exposição. Ele não pintou, não gravou, não imprimiu. Pai da frase e do conceito, Jungle criou a música para os outros tocarem.

Exposição: Tadeu Jungle
Onde: Valu Oria Galeria de Arte (r. Gabriel Monteiro da Silva, 1.403, tel. 011/883-0811)
Quando: hoje, às 21h; seg a sex, das 10h às 19h; sáb, das 11h às 14h. Até 7 de agosto

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