São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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GILBERTO DIMENSTEIN

As barulhentas manifestações organizadas nas ruas brasileiras sexta-feira passada não têm a importância de um único artigo publicado nesta Folha, escrito pelo empresário Antonio Ermírio de Moraes.
Organizadas pela CUT e Movimento dos Sem-Terra, o protesto "Abra o olho, Brasil" atraiu a atenção do país para uma causa honesta -a gigantesca dívida social.
Usou, entretanto, um truque desonesto: aproveitar a insatisfação legítima para vitaminar o Partido dos Trabalhadores e, por tabela, criar um ambiente para a sucessão presidencial.
O truque é tão manjado que acaba por prejudicar mobilização para pressionar governo e sociedade a reduzir os índices de injustiça e perversidade -o barulho deveria ser ainda muito maior. É ainda pouco.
A manifestação se desgasta porque acaba passando a suspeita de que, por trás dos sem-terra, estejam os sem-votos.
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Publicado domingo passado, o artigo de Antonio Ermírio de Moraes, é daqueles sinais inequívocos de uma nova agenda brasileira; a origem do seu artigo são números recentes do IBGE sobre a ignorância nacional.
Ele reafirma que educação é a prioridade das prioridades, propondo uma mobilização nacional -a começar pelos empresários, os quais, segundo ele, deveriam dar não só tempo, mas também dinheiro para salvar a escola pública.
A força da proposta vem do fato de que ele é o mais importante empresário brasileiro, tenta comover segmentos empresariais e não tem interesse pessoal neste tipo de iniciativa -dispõe de dinheiro suficiente para manter várias gerações de herdeiros nas melhores escolas da Suíça.
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O artigo revela uma tendência. Expressa no movimento articulado pelos bastidores de mobilização empresarial, defendendo um incentivo fiscal para quem invista na sala de aula; assim como há benefícios para as artes.
Quando gente com tamanho poder de influência e respeitabilidade coloca a cidadania como prioridade, estamos lidando com a indicação de que, enfim, o país vai entrando nos eixos.
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Movimento efetivo, porém, só vai ocorrer quando os empresários falarem de defasagem educacional com a mesma paixão com que apregoam defasagem cambial.
O problema é que, no Brasil, além dos analfabetos funcionais, temos os ignorantes funcionais.
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PS - Para não ser injusto, repito: a mais importante proposta social brasileira foi implantada pelo PT. É a bolsa-escola.

Fax: (001-212) 873-1045

E-mail gdimen@aol.com

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