São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 1997
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Tarifa pública supera a inflação do Real

MAURO TEIXEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O reajuste das tarifas públicas superou em 1,85 ponto percentual a inflação apurada em São Paulo nos três anos de Plano Real, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), órgão da USP (Universidade de São Paulo).
O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe alcançou 66,95% de julho de 94 a junho de 97, enquanto as tarifas públicas subiram 68,80% no mesmo período.
O comportamento dos reajustes anuais, no entanto, se comparado à inflação, deixa clara a estratégia do governo de segurar os preços no primeiro ano após a implantação do Plano Real.
Fosse uma corrida automobilística, sendo a parada nos boxes feita a cada 12 meses, a disputa entre inflação e tarifas públicas teria apresentado momentos distintos.
Na "largada", ou seja, nos primeiros 12 meses do Real, o IPC disparou na frente, atingindo 32,32%, enquanto os serviços públicos tiveram seus reajustes represados em 11,19%.
Já a segunda parte da "prova", após a primeira parada nos boxes, o panorama mudou completamente. Entre julho de 95 e junho de 96, o governo "soltou o freio", e os reajustes das tarifas do setor público chegaram a 28,20%, superando de longe os 17,84% da inflação.
As tarifas públicas se mantiveram na dianteira durante o terceiro ano de Real, quando alcançaram 18,42%, contra 7,08% do IPC, e receberam a "bandeira de chegada" com pequena vantagem.
No acumulado de três anos, apenas cinco das principais tarifas públicas foram reajustadas abaixo da inflação -gás de botijão e de rua, gasolina, álcool e energia elétrica.
Por outro lado, transportes e telefones registraram os maiores aumentos desde julho de 94. As tarifas telefônicas subiram 293,92% -97,30% apenas nos últimos 12 meses. Os preços de ônibus (110,90%), metrô (103,65%) e trem (100,42%) também foram reajustados bem acima da inflação.
"Ficou claro que o governo federal elevou o preço de algumas tarifas no último ano com o objetivo de tornar as empresas mais atraentes e viabilizar o processo de privatização", afirma Juarez Rizzieri, diretor-presidente da Fipe.
Ele prevê desaceleração nos reajustes pelo menos até o final de 98, em função do calendário eleitoral e da recuperação dos preços de serviços públicos. Para Rizzieri, essa pequena diferença entre a taxa de inflação e a de reajustes de tarifas revela o que ele chama de "resquício de indexação".
Já o economista Raul Veloso, 51, avalia como acertada a estratégia do governo. "A equipe econômica evitou a associação entre os reajustes e a inflação, ao mesmo tempo em que conteve o crescimento do déficit das estatais."
Veloso acha que a equiparação dos reajustes das tarifas à inflação indica que o governo não cumpriu a promessa de diminuir os custos e cobrar eficiência das estatais.
"O governo resolveu correr um risco, já que os reajustes públicos poderiam alimentar a inflação." Para ele, os reajustes agora deverão ficar abaixo da inflação.
Na avaliação de Heron do Carmo, coordenador de pesquisa da Fipe, o governo terá condições de segurar os preços das tarifas públicas até o início de 1999.
Segundo ele, a temporada de reajustes está praticamente encerrada neste ano, restando apenas "alguma coisa para ser corrigida nas tarifas telefônicas".
Carmo acredita que essa estratégia vai contribuir para aliviar a inflação em 98. Entretanto ele lembra que várias dessas tarifas são de responsabilidade dos governos municipal e estadual, que em muitos casos não seguem à risca a política do governo federal.

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