São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Don Juan' comanda o Brasil no Mundial

FERNANDA PAPA

ENVIADA ESPECIAL A PRESIDENTE PRUDENTE

Claudinei Quirino luta por consagração na principal competição do ano, que começa amanhã, na Grécia

Claudinei Quirino da Silva, 26, adotou nos últimos anos um nome artístico: Nei Juan.
"Nei" porque não gosta do resto de seu primeiro nome; "Juan" porque tem sido apontado como o Don Juan do atletismo brasileiro.
Ele é o principal nome do país para os 200 m e também corre o revezamento 4x100 m no Mundial de atletismo que começa amanhã, em Atenas, Grécia.
A competição vai até o dia 10, e o Brasil estará representado por 26 atletas, em 13 provas.
O revezamento 4x100 m, por ter sido bronze na Olimpíada de Atlanta, aparece como ponto forte da delegação (leia texto abaixo).
"Nei Juan" deverá ser o segundo homem a pegar o bastão. "Meu apelido vem dos tempos em que eu treinava em Araçatuba e as mulheres iam na pista me ver. Não sou bonito, mas sempre recebi flores e cantadas", conta o velocista, comentando que é "mulherengo".
Antes de Don ou Nei Juan, Claudinei foi um garoto órfão, cuja mãe morreu na hora do parto.
"Quando eu estava no orfanato, pensei que ia ser bandido. Passei fome e quase tive de roubar", lembra o atleta, que não gosta de falar sobre a ida para a casa de seu pai, em Lençóis Paulista, aos 14 anos.
Trabalhou como guarda-mirim, em supermercado e posto de gasolina, até conhecer o atletismo.
"Fui ver o treino de um colega do posto e, depois de me desprezarem um pouco, acharam que eu tinha jeito para correr", lembra.
"Nei Juan", na época com 18 anos, ainda era franzino e tinha a barriga cheia de vermes.
Logo começou a vencer, foi treinar em Araçatuba e, em 93, recebeu convite de Jaime Netto Jr. para entrar no time que ele comandava, em Presidente Prudente, também no interior de São Paulo.
"Não tinha dinheiro nem para a passagem de ônibus, mas dei um jeito e fui. Fiz resultado da noite para o dia e hoje sou, além de Nei Juan, o primeiro do Brasil nos 200 metros", orgulha-se o velocista, quinto lugar no último Mundial, em Gotemburgo (Suécia), em 95.
Para o Mundial de Atenas, nenhuma expectativa.
"Prefiro não falar de colocações ou grandes vitórias. Costumo dizer que minha maior conquista foi ter sobrevivido até hoje."

Texto Anterior: Brasileiro enfrenta australiano
Próximo Texto: Revezamento é apontado como virtual medalhista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.