São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Texto do MST propõe rebeldia organizada

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os cerca de 600 participantes do 1º Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária, encerrado ontem em Brasília, aprovaram proposta de invadir escolas públicas fechadas e um manifesto que prega "a possibilidade de uma rebeldia organizada e da construção de um novo projeto" alternativo ao neoliberalismo.
Neoliberalismo é uma doutrina econômica que prega o Estado mínimo. É acusada de privilegiar o mercado em detrimento da área social. O manifesto é assinado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Sobre as escolas, os participantes do encontro, que dão aulas em acampamentos de sem-terra, decidiram organizar comunidades urbanas para fazer as invasões. Essa proposta foi feita no início do encontro, dia 28 último, pelo coordenador nacional do MST João Pedro Stedile.
O coordenador do MST em Brasília, Gilberto Portes, disse que a proposta de Stedile será executada pelos educadores mesmo contrariando eventual decisão judicial.
"Se, por fim, formos impedidos de ocupar as escolas para fazê-las funcionar, iremos dar aulas nas praças, nas ruas, nas estradas e forçar o governo a cumprir a Constituição, que garante o direito de ensino público gratuito", disse.
Portes e três coordenadores do evento disseram que os educadores não temem responder a processos judiciais. O ministro Iris Rezende (Justiça) pediu abertura de processo contra Stedile devido à proposta de ocupação de escolas.
Fim do analfabetismo
Os coordenadores do encontro disseram que os educadores do MST vão incentivar as comunidades urbanas a buscar soluções para escolas fechadas. Outro objetivo é erradicar o analfabetismo nos acampamentos e assentamentos controlados pelo MST.
O 1º Censo da Reforma Agrária, coordenado pela Universidade de Brasília e concluído em junho passado, aponta que 41,3% dos 200 mil chefes de famílias assentadas pelo governo são analfabetos ou semi-analfabetos. Outros 40% cursaram somente até a 4ª série do 1º grau.
"Eu só consegui voltar a estudar depois que entrei para o MST", disse a educadora Maria de Jesus Santos, do Ceará, uma das coordenadoras do encontro. "Antes, eu passei cinco anos sem estudar por falta de escola na minha cidade."

Texto Anterior: Coelba é vendida por R$ 1,73 bilhão
Próximo Texto: Leia o manifesto do MST
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.