São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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PC do B financia congresso com 'raspadinha comunista'

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

Um Friedrich Engels vale cinco Che Guevara? A foice e o martelo, símbolos consagrados do comunismo, valem cem vezes mais que o pai da matéria -o velho Karl Marx em pessoa?
Para o PC do B (Partido Comunista do Brasil), um dos últimos bastiões da esquerda ortodoxa, sim. A resposta está na "raspadinha comunista", uma loteria instantânea na qual símbolos e figuras históricas ligadas ao comunismo valem dinheiro.
Trata-se de uma série de um milhão de bilhetes que começou a ser distribuída por militantes do PC do B nesta semana.
O objetivo é arrecadar dinheiro para ajudar a organização do 9º congresso do partido, marcado para outubro em São Paulo.
Cada bilhete custa R$ 0,50. Há um conjunto de seis símbolos. Se o bilhete tiver três figuras repetidas, elas valerão um prêmio em dinheiro -que varia de R$ 0,50 por três símbolos do congresso do partido a R$ 5.000 pela trinca de foice e martelo.
A idéia surgiu em 1991, em Goiânia (GO). "Mas só conseguimos fazer agora", diz o tesoureiro do PC do B paulista, Osvaldo Alves.
Além dos dois símbolos, há quatro personagens da história comunista: Marx, Engels, Vladimir Lenin e Che. A lista foi aprovada por João Amazonas, presidente do PC do B. "O 'seu' João adora essas coisas", diz Alves.
A inclusão de Guevara na lista se deve ao 30º aniversário da morte do guerrilheiro, tendo sido decidida contra nomes como Tiradentes e Zumbi.
Se alguém for premiado até R$ 10, o militante paga na hora e é reembolsado pelo partido.
Se o valor for R$ 50 (por três efígies de Marx) ou um dos três bilhetes com a tripla foice e martelo (R$ 5.000), o comprador é orientado a ligar para a sede do PC do B mais próxima.
O congresso custará R$ 150 mil. Se vender todas as "raspadinhas", que custaram R$ 25 mil, o PC do B ganha R$ 500 mil e dá 40% disso em prêmios.
É a segunda vez que o partido lança mão de um artifício "capitalista". Em 1993, criou um sistema para levantar dinheiro a partir do uso de cartões de crédito -embora não tenha um cartão de afinidade, como o PT.
"A questão não é ser capitalista. É apenas uma forma de aumentar nossa propaganda", afirma o tesoureiro Alves.
O comércio com símbolos comunistas também não é novidade. Qualquer encontro de partidos de esquerda conta com aquelas indefectíveis camisetas com o rosto de Che à venda.
Mas, como todo comunista, Alves já tem uma terminologia nova e específica para o trabalho: "Finança de massas".
Com 58 mil filiados, o PC do B paulista tem uma receita anual de R$ 700 mil e, segundo o tesoureiro, não está mais no vermelho.

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