São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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Governo afasta 96 e prende 23 policiais

FÁBIO GUIBU
PAULO MOTA

PAULO MOTA; FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Anúncio de punições põe fim à greve das polícias Civil e Militar iniciada terça; Exército retira tropas de Fortaleza

O governo do Ceará afastou ontem 70 policiais militares e 26 civis e confirmou a prisão disciplinar de outros 23 grevistas acusados de participar da paralisação nas corporações, iniciada na terça e encerrada ontem. Com o fim da greve, as tropas do Exército que cercavam a Secretaria da Segurança Pública do Estado e vigiavam o aeroporto de Fortaleza foram retiradas no final da tarde.
As punições foram anunciadas ontem pelo secretário estadual da Segurança Pública e Defesa da Cidadania, general Cândido Freire.
Os policiais afastados, disse ele, responderão a processos e poderão ser expulsos das corporações. "Mas todos terão seu direito de defesa garantido", declarou.
Com a punição, os acusados perderam a autoridade policial e não podem mais usar fardas ou distintivos. O uso de armas está proibido, disse o secretário.
"Eles perderam a confiança do Estado e da sociedade e vão ter que pagar por isso", declarou Freire. "Espero apenas que a Justiça não os reintegre às corporações."
Os policiais afastados e presos teriam participado da passeata que resultou na troca de tiros entre manifestantes e tropas de elite convocadas pelo governo.
Cinco pessoas ficaram feridas no confronto, entre elas o comandante da PM, coronel Mauro Benevides, baleado no ombro.
A Associação dos Cabos e Soldados da PM reconheceu o fim da greve às 16h. "Não há mais ninguém fora dos quartéis", disse o presidente da entidade, Selmo Torquato.
A Polícia Civil também reconheceu o esvaziamento do movimento, mas preferiu classificar o fato como uma "trégua" oferecida pelos grevistas.
As delegacias funcionaram normalmente. O policiamento nas ruas também foi normal e nenhuma ocorrência grave foi registrada -apesar de 60 mil pessoas estarem nas ruas brincando no Fortal, o Carnaval fora de época.
O golpe final na paralisação foi dado ao meio-dia, quando o governo do Estado determinou a prisão dos oito últimos PMs que ainda protestavam em praça pública.
Os grevistas foram abordados pelo tenente-coronel Francisco Justino Ribeiro Neto, que os "convidou" a acompanhá-lo de volta ao quartel.
Os PMs tentaram negociar e pediram a garantia de que não seriam punidos, o que foi negado.
Com os rostos cobertos por capuzes, os oito manifestantes foram transportados em dois carros e presos no 5º Batalhão de Policiamento Militar.
Quatro dos oito PM presos disseram à Agência Folha não se arrepender de ter participado da greve. "Somos heróis. Ninguém pode negar que estamos fazendo história", disse o soldado José Ribamar Martins Filho, 26, há cinco na PM.
Martins Filho e seus colegas Francisco Willian Bedê Porto, 22, Antonio Agamenon Lopes de Souza, 25, e Ricardo Sérgio Nogueira Moura, 27, afirmaram que aceitam ser punidos, mas consideram "injusta" a decisão.

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