São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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MEC elogia projeto de ciclos em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MEC (Ministério da Educação) elogiou ontem o projeto de São Paulo de criar ciclos -dentro dos quais não há reprovação de alunos- no primeiro grau da rede pública estadual, mas ressaltou que ele exige grande investimento, especialmente no professor.
A medida é considerada "correta e interessante" pela secretária da Educação Fundamental do ministério, Iara Prado.
Pela proposta em estudo pelo governo paulista, o primeiro grau será dividido em dois ciclos: um unindo da 1ª à 4ª séries e outro da 5ª à 8ª. Só há reprovação no final dos ciclos, mas o aluno deve ser avaliado durante o período e receber reforço, se necessário.
"O país tem uma cultura de repetência impregnada. Parte-se do princípio de que é preciso repetir para aprender e pune-se o aluno", disse Iara ontem.
Para ela, a Secretaria da Educação paulista tenta "algo bastante corajoso" ao propor os ciclos. "Ela está colocando o dedo na ferida. A culpa da repetência não pode ser do aluno.Ele não pode ser levado a baixar sua auto-estima."
A secretária vê o professor como peça fundamental para o sucesso do novo sistema. Ela acredita que, se a medida for levada adiante, São Paulo "vai organizar uma política forte de formação continuada dos professores e investir em salários e equipamentos em escolas".
Prado diz que o Estado tem "todas as condições" para isso, uma vez que o Fundão permite 60% de investimento no primeiro grau.
Ressalvas
Educadores ouvidos ontem disseram acreditar que o projeto de criar ciclos é positivo, mas sozinho não melhora a qualidade da rede pública estadual.
"É preciso ter cuidado para que a proposta, na prática, não vire apenas um deslocamento da repetência para o final do ciclo", alertou João Cardoso Palma Filho, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Ele defende uma avaliação contínua do aluno e trabalhos paralelos para recuperar quem apresente déficit no aprendizado.
Para Palma, a secretaria deveria discutir com os professores antes de implantar a idéia. "Fica mais fácil vencer resistências assim", disse. Ele concorda que os ciclos acabam com o que alguns professores vêem como arma para forçar o aluno a estudar, que é a possibilidade de reprovação.
Roberto Torres Leme, presidente da Udemo (sindicato dos diretores de escolas estaduais), diz que a estrutura em ciclo aumenta a responsabilidade do professor.
"Por isso, é preciso ter uma política de capacitação, dando instrumentos para que se ensine melhor, e de incentivo, com melhora salarial, por exemplo", afirmou.

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