São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997 |
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Mãe é mãe, paca é paca. E mulher é o quê?
BARBARA GANCIA
Aliás, depois de sua última visita, me recuso a continuar chamando Bucicleide de amiga. De hoje em diante, ela será apenas minha conhecida. Veja só: terça à noite, depois de "A Indomada", resolvi dar aquele trato. Mas, assim que terminei de aplicar uma máscara relaxante à base de pepinos selvagens de Java, a campainha tocou. Era Bucicleide. Olhou para mim e saiu correndo em direção à cozinha. Voltou armada de um pano de prato e, antes que eu tivesse tempo de dizer "creme tonificante da Clarins", ela começou a esfregar meu rosto. Em dois segundos tirou toda a máscara que me custou um zilhão. "O que é isso, Bucicleide, você pirou?", gritei, enquanto retirava os restos da máscara -por sinal, muito saborosa- dos cantos da boca. "Pirei, só se for de batata", gritou Bucicleide, com os olhos esbugalhados de vaca atropelada e jogada na beira da estrada. "Não posso deixar que você seja a comprovação ambulante do estudo dinamarquês". Estudo dinamarquês? Há algo de podre no reino da Dinamarca e a culpa certamente é da Bucicleide, pensei. "Você ainda não sabe que cientistas dinamarqueses comprovaram o que eu sempre soube? Que nós, mulheres, somos mesmo umas antas?" Anta, digo, antes que eu pudesse soltar um sonoro "speak for yourself", Buci, digo, Cleide, resolveu me explicar o motivo de sua ira. "Sabe como, na escola, os meninos sempre davam baile na gente em matemática, física e química? É isso. Sabe como a gente sempre precisa da ajuda de um homem para descobrir o que há de errado com o carro? É isso. Sabe por que a gente nunca consegue entender manual de aparelho de vídeo e eles entendem? É isso." Tentei interromper o enigmático discurso, mas não houve jeito. "Os dinamarqueses descobriram que os homens têm 4 bilhões de células cerebrais a mais do que as mulheres. Por acaso os homens lutaram pela sua libertação e acabaram tendo de trabalhar dobrado? Por acaso os homens gastam fortunas com máscaras relaxantes à base de pepinos selvagens de Java?" E agora? Quem se candidata a dizer a Burricleide, digo, Bucicleide, que quantidade não é sinônimo de qualidade? Texto Anterior: Para OMS, surto em SP era evitável Próximo Texto: Óbvio ululante; Conto da carochinha?; Leitor sapeca Índice |
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