São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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O povo quer: John Woo para Batman

SÉRGIO DÁVILA
EDITOR DA ILUSTRADA

Sair de "A Outra Face" ("Face/Off") e pensar: o povo quer, o povo exige John Woo dirigindo o próximo "Batman"!
O diretor cantonense (são dele "O Alvo", "A Última Ameaça" e o seminal "Hard Boiled"), cuja mais recente obra estréia hoje nos cinemas de São Paulo, é o reinventor dos filmes de ação. Faria estragos se deixassem o homem-morcego sob seu comando.
Os tiroteios concebidos por este Balanchine da violência são verdadeiros pas-de-deux em que o mal e o bem, mais do que se enfrentam, dançam juntos até a morte de um.
Suas perseguições são óperas minimamente planejadas -carros, explosões, balas e eventualmente pessoas seguem com rigor a batuta do maestro.
Há um pouco disso tudo em "A Outra Face", por isso o filme, ruim, vale tanto a pena.
O título original dá dupla leitura -trocadilho que significa algo como "frente e verso" e também, mais literalmente, "tirar a cara".
E a história não poderia ser mais boba. Todos os filmes de Woo, de resto, pecam pela singeleza, para não dizer pieguice esquemática, de seus enredos.
Agente de divisão antiterrorismo do FBI, Sean Archer (John Travolta) sofre atentado e tem filho morto pelo megafacínora Castor Troy (Nicolas Cage). Passa, então, a perseguir obsessivamente o malfeitor, até o derrotar.
Troy/Cage entra em coma, levando consigo o segredo de onde teria colocado sua última bomba.
Então, auxiliado por uma equipe de medicina hi-tech, Archer/Travolta "troca" de cara com Troy para, de visual novo, infiltrar-se na prisão e tirar do irmão do terrorista, Pollux (o relativamente novato ator Alessandro Nivola, muito bem), os dados necessários.
Acontece que o até então comatoso bandido se recupera e "veste" a cara do policial -e sua vida, trancando-o de vez na cadeia. É aí que o filme começa de verdade.
Há muitas leituras. De "Édipo Rei" -e é simbólica a cena em que Cage, já "vestido" de Travolta, visita sua filha no quarto- a (toc, toc, toc) "O Pequeno Príncipe" -com alguma perversão, aquela bobajada de cativar/ser responsável se aplica perfeitamente à relação carcereiro/preso.
Todo esse raciocínio soa forçado, porém, diante do que parece ser a intenção primeira de Woo: divertir e divertir-se. Ele consegue.
Principalmente pelos detalhes:
* o cabelinho à Oasis dos vilões;
* a perseguição de lancha;
* a devolução do mestre às "homenagens" de Quentin Tarantino em "Cães de Aluguel", principalmente nas câmeras lentas, nos duelos de pistola (há três no filme) e no tiroteio final, em que há mortos demais para balas de menos;
* a melhor cena, uma criancinha ouvindo em seu fone de ouvido "Somewhere over the Rainbow" cantado por Olivia Newton-John durante um dos maiores tiroteios já filmados até hoje;
Hollywood (como o povo) não é boba: cedo ou tarde, veremos a mão de Woo em Gotham City. Nem que seja em "Batman 18".

Filme: A Outra Face
Produção: EUA, 1997
Direção: John Woo
Com: John Travolta, Nicolas Cage
Quando: a partir de hoje, nos cines Calcenter 2, Studio Alvorada 1 e circuito

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