São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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Howard Stern choca a América e se diverte muito

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Será possível avaliar o filme "O Rei da Baixaria" sem julgar seu personagem central, o radialista norte-americano Howard Stern? Analisando apenas o filme, fica fácil convencer as pessoas de que é uma ótima comédia, com direção ágil e um roteiro muito divertido. Agora, analisar Stern...
O que dizer de um radialista que organizou um concurso que dava uma privada nova ao ouvinte que defecasse mais, em um penico colocado no estúdio?
Muitos podem não achar graça, mas 20 milhões de norte-americanos acompanham diariamente as quatro horas de seu programa, em busca de atrações assim.
Stern inova o rádio ao entrevistar lésbicas, travestis, deficientes mentais, condenados à prisão perpétua, atrizes pornôs, astros de rock e mafiosos. Seu humor é corrosivo e sem censura alguma.
Versão adulta e intelectualizada de Beavis e Butt-Head em uma pessoa só, Stern fez tanto sucesso que ultrapassou os limites do rádio. Criou um programa de entrevistas na TV -do qual poucas celebridades têm coragem de participar- e lançou livros de sucesso.
Seu maior best seller, a autobiografia "Private Parts", é a base do roteiro de "O Rei da Baixaria". E o humor continua cruel. Afinal, o que Stern mais adora é zombar de sua própria pessoa.
No ar, ele escancara sua intimidade familiar. Quando fala dos pais, reclama que a mãe tomava sua temperatura diariamente com um termômetro retal até os 15 anos. Da esposa, Alison, chega até a relatar detalhes de um aborto ("Meu sogro sempre quis um neto, então tirei uma foto da privada para ele mostrar aos amigos").
O filme, como o livro, mostra que o centro da vida de Stern é sua mulher. Defensor da bandeira da monogamia, ele abre e fecha o filme lamentando não poder transar com todas as mulheres maravilhosas que seu sucesso atrai.
E Alison está sempre com ele, dando força em sua perambulação por pequenas rádios. Enquanto tenta ser um DJ de rock normal, Stern não consegue sucesso. Só quando resolve improvisar, falando as maiores bobagens, ele descobre como ser diferente.
Se debochar das pessoas é sua meta, ele decide logo desmoralizar o próprio Howard Stern. Diz a toda hora que seu pênis é muito pequeno e sempre abre seu programa revelando se fez sexo ou não com a mulher na noite anterior.
O filme refaz a trajetória de Stern nas rádios pequenas e relata a pressão que ele sofreu ao assinar contrato com a WNBC, de Nova York. Gente da própria emissora queria sabotar o programa, para convencer Stern a se demitir, mas cada investida dos "defensores da moral" foi rebatida com uma nova idéia maluca e agressiva.
O melhor é ver o filme antes e só depois começar a refletir sobre o trabalho de Stern no rádio. No cinema, ele acaba se revelando um bom ator -favorecido, lógico, por interpretar a si mesmo.
E ele é realmente um personagem do tipo "ame-o ou deixe-o". É só assistir e escolher.

Filme: O Rei da Baixaria
Produção: EUA, 1997
Direção: Betty Thomas
Com: Howard Stern, Robin Quivers
Quando: a partir de hoje, nos cines Paulista 4, Center Norte 1 e circuito

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