São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997 |
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'Assassinos' vê a morte como ofício
JOSÉ GERALDO COUTO
Não que o filme seja ruim. O talento do diretor continua intacto. Como em "O Ódio", cada plano é bem filmado, a edição de som e imagem é perfeita -só que, desta vez, o conjunto é quase vazio. O filme parte de uma situação rica de possibilidades: o sr. Wagner, um veterano assassino profissional (Michel Serrault), procura um jovem a quem transmitir sua experiência e passar o bastão do ofício. O primeiro que aparece é um jovem marginal de classe média, Max (o próprio Kassovitz), que mora com a mãe e passa o tempo todo vendo televisão. Idéia boa, desenvolvimento discutível. Desde que Max e Wagner se conhecem, por acaso -o primeiro assaltando um supermercado, o segundo matando seus funcionários-, a relação entre os dois evolui de modo artificial. Dá a impressão de que, ao pretender decompor e desdramatizar a anatomia de uma profissão terrível (a de matador), Kassovitz acabou por esvaziar seus personagens de humanidade. Eles não parecem gente de verdade. Praticam suas ações como que sob hipnose. É possível que isso tenha sido uma opção consciente do diretor, que assim confirmaria sua tese, repetida exaustiva e irritantemente ao longo do filme: a de que a TV torna as pessoas estúpidas e desprovidas de senso moral. Mesmo que essa "mensagem" seja pertinente, a insistência didática com que é exposta dilui seu impacto. Há outra coisa mal resolvida. Wagner se apresenta como cultor de um artesanato complexo e sutil, o do assassinato. Chega a falar, com pseudo-erudição, sobre o ar quente que saía dos corpos dos vikings atravessados por espadas, e que era interpretado por eles como a alma subindo aos céus. Mas os homicídios que pratica não têm elaboração alguma, são de uma grosseria brutal e absoluta. Filme: Assassinos Produção: França, 1997 Direção: Mathieu Kassovitz Com: Michel Serrault, Mathieu Kassovitz Quando: a partir de hoje, no Cinearte 1 Texto Anterior: Filme dá início a especulações Próximo Texto: Howard Stern choca a América e se diverte muito Índice |
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