São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997 |
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Fuentes vê Machado de Assis como "nosso maior novelista" Escritor fez palestra na ABL e lança no Rio "A Laranjeira" DA SUCURSAL DO RIO Os conflitos entre norte-americanos e mexicanos nas fronteiras entre os dois países são o tema central de "A Fronteira de Cristal", mais recente livro do escritor mexicano Carlos Fuentes, 68, ainda sem data prevista para lançamento no Brasil.Nele, o escritor mostra a tensão existente entre os dois países. "É preciso ficar atento ao que pode acontecer nessa região", disse Fuentes. O escritor, que chegou anteontem ao Rio para fazer uma palestra sobre a obra de Machado de Assis na ABL (Academia Brasileira de Letras), aproveita ainda a permanência no país para lançar "A Laranjeira". O livro é composto por cinco novelas curtas, interligadas. Nelas, o escritor joga com diversos elementos míticos íbero-americanos: o conquistador, o conquistado, a mestiçagem. "Fui convidado há alguns anos para escrever um conto sobre a América, algo que relembrasse os 500 anos da viagem de Colombo. Gostei da idéia e resolvi estender o trabalho. Daí surgiram as cinco novelas de 'A Laranjeira"', disse. A primeira delas, "As Duas Margens", é uma narrativa 'post-mortem' feita por um espanhol sobre a conquista da América. Na segunda novela, "Os Filhos do Conquistador", Fuentes mostra a disputa entre os dois filhos do conquistador -um deles, espanhol, o outro, mestiço. "As Duas Numâncias", terceira das novelas, volta ao passado contando a conquista das regiões ibéricas pelos romanos. Em "Apolo e as Putas", Fuentes mostra a América dos dias de hoje colocando em cena um ator norte-americano que se envolve com prostitutas mexicanas. "A Laranjeira" termina com "As Duas Américas", quando Colombo é "descoberto" por empresários japoneses que querem transformar seu refúgio nas Antilhas em um complexo turístico. Na palestra que fez na ABL -intitulada "Machado de La Mancha - Declarações Entusiastas sobre a Língua Portuguesa"- Fuentes apresentou Machado de Assis como o verdadeiro herdeiro da tradição novelística íbero-americana iniciada com o escritor espanhol Miguel de Cervantes. "Machado é nosso maior novelista e assume a missão de Cervantes, a missão de La Mancha em uma América onde ser negro era ser bárbaro e ser espanhol era ser retrógrado", disse o escritor. Para Fuentes, autor de "A Morte de Artêmio Cruz" e "Gringo Velho", Machado escapou das armadilhas do realismo, do naturalismo e do romantismo e seguiu "a linha da grande tradição criativa de Diderot e Cervantes". "Por isso, 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' é o grande romance hispano-americano do século 19", afirmou o escritor mexicano. Livro: "A Laranjeira" Autor: Carlos Fuentes Lançamento: Rocco Quanto: R$ 23 (216 págs.) Texto Anterior: Viscardi sola no Municipal Próximo Texto: São José inaugura hoje o Mês da FotoImagem Índice |
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