São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Indústria pouco competitiva

CELSO PINTO

A McKinsey & Co., uma das mais respeitadas empresas de consultoria do mundo, está terminando um amplo trabalho de avaliação da competitividade da indústria brasileira, a exemplo do que já fez em outros países. Os resultados são um desastre.
Os setores examinados têm apresentado desempenhos de 50% a 70% inferiores aos melhores desempenhos internacionais ("benchmark"). Apesar de toda a reestruturação e investimento recente, a indústria brasileira ainda está muito atrás de seus concorrentes internacionais.
A McKinsey já terminou a avaliação de quatro setores: aço, automóveis, aviação e telecomunicações. Está completando o exame do setor bancário, de varejo de alimentos e de construção.
O baixo desempenho não pode ser atribuído apenas a fatores econômicos, como a falta de capital. O diagnóstico da McKinsey é que uns 20% poderiam ser ganhos com mais eficiência, por meio de processos de reengenharia.
O trabalho deve estar pronto até o final do ano. O futuro presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que está acompanhando o trabalho, deve reforçar com ele seu antigo diagnóstico de que a indústria brasileira ainda precisa ganhar muita competitividade.
Aliás, ser empurrada a ganhar competitividade, algo que uma taxa de câmbio valorizada, a seu ver, ajuda a fazer: ou as empresas aumentam a produtividade, ou podem desaparecer. Mais câmbio, segundo Franco, apenas geraria exportações artificiais e acomodaria as empresas.
Pressão externa
O problema é saber se a travessia até uma economia mais produtiva é sustentável. Os resultados da balança de julho foram outra ducha de água fria nos que esperavam alguns sinais de melhora.
O déficit acima de US$ 800 milhões superou as piores expectativas. As importações bateram novo recorde, superando US$ 6 bilhões, apesar dos sinais de desaceleração na economia nos últimos meses e das medidas de desestímulo às importações. As teorias de que as importações já teriam encontrado um patamar de acomodação ficam temporariamente arquivadas e o mercado financeiro registrou seu pessimismo com fortes quedas nas bolsas.
Desta vez, os vilões de julho foram importações de petróleo e de bens de capital. É perigoso, contudo, tentar descobrir vilões do mês que tornariam cada resultado um caso especial. Importa é a tendência, e ela ainda é complicada.
O déficit comercial em 12 meses deu um novo salto, para perto de US$ 10,5 bilhões. Se agosto repetir o déficit de julho, como alguns prevêem no mercado, chegará a US$ 11 bilhões, um número que muitos imaginavam para o ano todo.
Outro complicador na equação externa tem sido a extraordinária valorização do dólar frente a várias moedas, especialmente o marco alemão e o iene japonês. Do início do Plano Real, em julho de 94, até março de 95, aconteceu o oposto. O dólar se desvalorizou 18,6% em relação ao iene e 14,4% frente ao marco alemão. Como o real segue o dólar, quando o dólar se desvaloriza em relação a outras moedas, o real também se desvaloriza, ou seja, os produtos brasileiros ganham competitividade.
Desde março de 95, contudo, o dólar passou a ganhar enorme força. Frente ao iene, ele subiu 49% e, frente ao marco alemão, 37%. Considerando o que ocorreu desde o início do Plano Real até hoje, o dólar se valorizou 21% frente ao iene e 17% perante o marco alemão.
Enquanto isso, o real se desvalorizou, desde o início do Plano Real, pouco mais de 8% em relação ao dólar. É verdade que as exportações para a Alemanha representam apenas 5% do total das exportações, e as para o Japão, 5,9%.
O efeito persiste, contudo, mesmo quando se compara o real às várias moedas, ponderadas por sua participação nas exportações. No primeiro semestre, uma aceleração no câmbio resultou numa desvalorização real de 0,9% frente ao dólar (deflacionando pelos preços industriais). No entanto, frente às moedas ponderadas, o real valorizou-se 0,8% (com preços industriais como deflator) ou 0,9% (usando o custo de vida). A valorização se aprofundou em julho.
A outra má notícia, do ponto de vista da competitividade externa, veio da crise monetária asiática. Os velhos e novos tigres asiáticos sofreram desvalorizações de 5% a 30% de suas moedas, tornando seus produtos mais competitivos. Como são países que vendem para os mesmo clientes brasileiros, isso significa que a vida de nossos exportadores ficou mais difícil.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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