São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Droga recupera anticorpo de criança

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O menino A., 10, e a menina J., 8, começaram a tomar o coquetel de drogas há cerca de dois meses, quando a rede de saúde de São Paulo começou a fornecer a combinação para uso pediátrico.
Apesar de nunca terem desenvolvido infecções oportunistas (pneumonia ou tuberculose, por exemplo), eles começaram a tomar os remédios porque sua quantidade de CD4 (células de defesa) estava caindo e atingindo níveis preocupantes. Com o coquetel, os CD4 estão voltando a subir.
A. e J. nasceram com o vírus. Como suas mães morreram com a doença, hoje eles moram na Casa Vida 2 (zona leste de SP).
As casas 1 e 2 abrigam 32 crianças (de 0 a 12 anos) portadoras do vírus. "Há seis anos, a gente não tinha perspectiva de futuro para as crianças. Agora as estamos vendo crescer, e muitas delas sem a doença", diz o padre Júlio Lancelloti, coordenador da Casa Vida.
Foi baseado nessa "perspectiva" de futuro que o padre decidiu construir a segunda casa. "Tenho certeza de que elas vão passar à vida adulta", acrescenta.
A. diz que, quando crescer, quer trabalhar na Ford porque "adora carros". Ele está na 3º série do 1º grau e já teve problemas na escola por causa da doença.
"Como as crianças são muito conhecidas no bairro, os colegas começaram a dizer que eles tinham Aids", conta Rosana Ribeiro, que também coordena a casa.
Foi quando o padre decidiu contar para as crianças sobre o vírus. "Falei tudo, mas a percepção delas é diferente da de um adulto." Ele teve que ensinar como responder a esses ataques na escola.
"Eles disseram que, se alguém gritasse que tinham Aids, eles iriam xingar. Dissemos que isso era errado, que deviam responder que os colegas eram ignorantes."
Na Casa Vida 2, há 12 crianças -só quatro tomam o coquetel. Para o padre Júlio, o mais difícil hoje no tratamento das crianças é que a manifestação do vírus nelas é diferente e ainda pouco conhecida.
"Já tivemos crianças aqui com alterações na estrutura óssea, que não ocorre em adultos. Só o tempo vai dar uma clareza maior de como o vírus age na criança." (LM)

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