São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Ex-viciado volta a trabalhar e até casa

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto, 27, tem o vírus desde que tinha 16 anos, quando compartilhou uma seringa em uma "rodada" de cocaína em uma favela na zona sul de São Paulo.
Cinco anos depois, a doença começou a se manifestar até que, em 95, Roberto teve uma tuberculose e uma pneumonia que quase o mataram. "Fiquei 12 dias no Hospital Santa Catarina (SP). Tinha diarréia, tremedeiras. Os médicos chegaram a me desenganar."
Conseguiu sair do hospital, mas a crise não passou. Depois de curar a tuberculose e a pneumonia, começou a ter uma infecção nos olhos e dores nas pernas. "Achei que ia ficar cego e parar de andar."
Começou a tomar uma combinação de remédios e, após um ano, conseguiu se recuperar. Mas os problemas continuaram no ano passado. Tinha problemas intestinais, que causavam diarréia e dores na hora de comer.
No fim de 96, ele começou a tomar o coquetel e hoje afirma que se sente muito melhor. "Como qualquer coisa, saio na hora que tenho vontade, não sinto mais fadiga."
O resultado disso é que ele está de volta ao trabalho -faz vendas por telefone- e afirma ter uma vida sexual normal.
Roberto (o nome é fictício) mora em Pinheiros (bairro de classe média na zona sudoeste de SP) com os pais e a mulher.
Casado há sete anos, Roberto afirma que evitava se aproximar do sexo oposto. "Tinha medo de transmitir (o vírus). Muitas mulheres chegaram a ficar com raiva de mim porque davam em cima e eu não reagia."
Mesmo com Aids, Roberto demorou para largar as drogas. E foi em outra "rodada" de cocaína que conheceu sua mulher. "Ela não usava drogas. Estava lá por causa de um ex-namorado. Foi quando saímos e, gostei tanto dela, que contei que tinha Aids. Mesmo assim, ela me beijou."
Os dois mantêm relações sexuais com "cuidado total". "O beijo pode ser dado, mas não pode ser aquela coisa. E é bom sempre cuidar de qualquer ferimento."
O casal já passou por, pelo menos, duas crises. A primeira foi quando a camisinha estourou. "Ficamos desesperados. Mas ela fez exame e não deu nada."
A segunda foi não poder ter filhos. "Ela queria adotar, mas eu não quero ter um filho que vai virar órfão."
(LM)

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