São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Alto estoque eleva dívida da indústria

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Altos estoques, expansão dos prazos de pagamento concedidos aos clientes e crescimento da importação de componentes estão aumentando o endividamento da indústria eletroeletrônica nacional.
Levantamento feito pela Austin Asis, consultoria especializada em risco bancário, mostra que em junho último a dívida das empresas do setor com os bancos representava em média 29% do patrimônio delas.
Em junho de 1996, esse percentual foi de 28,3%, e, em junho de 1995, de 14,7%.
O "boom" de consumo provocado pelo Plano Real, segundo a consultoria, levou a indústria a se endividar para aumentar a produção e atender a expectativa de uma demanda maior, que não se sustentou.
"O que atrapalhou e ainda atrapalha essas indústrias é o grande volume de estoque, bancado com altas taxas de juros", afirma Mário Alberto Lopes Coelho, diretor da Austin Asis.
As taxas cobradas pelos bancos para capital de giro, diz, variam de 4% a 7% ao mês, sem IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), dependendo de quem solicita o financiamento.
Dívidas crescendo
"Esse custo para manter o capital acaba fazendo com que as empresas onerem os seus resultados."
Ricardo Setubal, vice-presidente administrativo e financeiro da Itautec Philco, conta que, atualmente, o endividamento da empresa junto a bancos -em torno de R$ 350 milhões- é do mesmo tamanho do seu patrimônio.
"É um valor alto para o Brasil, mas está praticamente estabilizado sobre o do ano passado. O crescimento é sobre 1994 e 1995."
O aumento da importação de componentes para propiciar a expansão da produção levou a empresa a buscar mais financiamento, informa Setubal.
"Mas não estamos preocupados. As dívidas devem diminuir no segundo semestre com a redução dos estoques.
Existe uma expectativa de melhora das vendas."
Lopes Coelho, da Austin Asis, também aposta na redução do endividamento da indústria eletroeletrônica neste semestre.
Na sua análise, as empresas devem também, daqui para a frente, buscar recursos em outras fontes, como o mercado de ações.
Dependência
"Essa, por exemplo, é uma forma de conseguir dinheiro mais barato, até que os bancos operem com taxas de juros mais atrativas", avalia Lopes Coelho.
É claro, porém, diz ele, que a indústria ainda fica dependente da política econômica do governo.
Se houver restrição ao crédito, por exemplo, as vendas podem cair e não crescer, como se prevê, com a proximidade do final do ano.
A exigência do governo para que as importações sejam pagas à vista ou financiadas com prazos superiores a 365 dias também fez subir o endividamento das empresas, na análise de Paulo Souto, analista de investimento do banco Bozano, Simonsen.
Alongando
Muitas empresas conseguiram esticar o prazo, lembra o analista do Bozano, Simonsen, mas mesmo assim tiveram algum desembolso antes de obter um prazo mais longo de financiamento.
Na sua análise, o endividamento das empresas se acentuou no segundo trimestre deste ano com a retomada do crescimento da inadimplência do consumidor.
Esse crescimento da inadimplência tem impacto no caixa da loja e, consequentemente, no da indústria.

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