São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Desvalorização anima economia da Alemanha

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

Os defensores da desvalorização da moeda como mecanismo para revigorar a economia podem alardear, como exemplo, o caso da Alemanha.
Não que a emergente economia brasileira seja comparável à da Alemanha, país rico e industrializado. Mas os efeitos da desvalorização da moeda são semelhantes, seja ela o marco ou o real.
A Alemanha, depois de passar por um período de dificuldades, em parte ainda resultante dos custos da reunificação, vive hoje com a perspectiva de voltar a crescer em ritmo mais acelerado com a ajuda das exportações.
A oportunidade está ligada à desvalorização do marco, tendência que vem sendo observada desde 1995 e que se acentuou no início do ano, batendo recordes sucessivos de baixa em relação ao dólar nas últimas semanas.
Há dois anos, um dólar comprava 1,35 marco; hoje compra 1,86 marco. Trata-se da cotação mais alta do dólar em oito anos.
A vantagem que isso representa para a economia alemã é que seus produtos ficam relativamente mais baratos no exterior, o que estimula a exportação.
No caso alemão, o peso das exportações é decisivo para determinar a saúde da economia do país.
Os números são eloquentes. No início de 1996, a Alemanha exportava pouco menos de US$ 35 bilhões por mês. Hoje vende US$ 39 bilhões. (Para comparar: o Brasil exporta, por ano, em número redondo, US$ 50 bilhões.)
As exportações para os Estados Unidos descrevem uma curva ascendente ainda mais íngreme.
No mesmo período, as vendas mensais da Alemanha para aquele país passaram de US$ 2,5 bilhões para US$ 3,2 bilhões.
Expressões diferentes
As razões que levam o chanceler alemão, Helmut Kohl, a esboçar um sorriso são as mesmas que fazem a equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso se preocupar, conforme mostra reportagem na pág. 2-14.
O marco desvalorizado que ajuda as exportações alemãs é o mesmo que atrapalha as exportações brasileiras.
O que ocorre é que o real, atrelado à cotação do dólar no mercado internacional, acaba tendo uma sobrevalorização extra com a carona indesejável da moeda norte-americana.
Cada vez que o dólar sobe em relação ao marco, o real, já sobrevalorizado, vai atrás, comprometendo a competitividade dos produtos brasileiros naquele mercado.
A contrapartida dos benefícios da desvalorização é a pressão inflacionária. Câmbio sobrevalorizado é uma âncora eficiente para os preços, como demonstrou o sucesso do Plano Real.
Na Alemanha, onde a inflação é inferior a 2% ao ano, a preocupação do Bundesbank, o banco central, existe, mas não é tão grande como no Brasil.
O problema é que o alcance da desvalorização da moeda, como instrumento de recuperação, é limitado. Praticamente, só ajuda as exportações.
O PIB (Produto Interno Bruto) da Alemanha, por exemplo, deve crescer apenas 2,6% neste ano, enquanto o desemprego encontra-se em nível recorde.
Esses indicadores sugerem ser lento o processo de multiplicação na cadeia econômica a partir desse setor.
Por enquanto, o crescimento das exportações não teve impacto substancial no resto da economia.

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