São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Declarações de Netanyahu acirram tensão

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Netanyahu ficou tão prisioneiro da lógica da violência que está condenado a invadir os territórios palestinos, se houver novo atentado, tantas foram as ameaças verbais após as bombas da quarta.
Seu conselho de segurança até já autorizou as forças especiais de Israel a conduzir atividades anti-terroristas na chamada "área A", aquelas que, pelos acordos de paz, estão sob pleno controle da ANP (Autoridade Nacional Palestina).
Se Israel de fato entrar nos territórios autônomos palestinos, cria-se uma situação infinitamente mais grave do que a que vigorou durante a "intifada", a revolta dos palestinos que durou de 1987 a 1993.
Naquela época, os jovens palestinos lutavam, basicamente, com pedras. Hoje, os vários corpos policiais da ANP têm 33 mil homens armados e chefiados por Ghazi Jabali, que já ameaçou: "Se os israelenses entrarem (nos territórios), não sairão vivos".
Jabali é acusado por Israel de ordenar ataques a judeus, utilizando alguns de seus homens. Sua extradição foi pedida por Israel às autoridades palestinas.
Os serviços de inteligência israelenses calculam que uma eventual ocupação das áreas palestinas teria um custo, em vítimas, equivalente ao da guerra do Líbano (1982 em diante), a única que Israel perdeu.
Se essa avaliação estiver correta, fica claro que Netanyahu está cercado pelo terrorismo dos dois lados: se não responder a novos atentados, perde a confiança do público interno. Mas, se o fizer além da medida, abre uma guerra de consequências imprevisíveis.
Queixas recíprocas
Talvez por isso, o governo israelense esteja empenhado em uma blitz para tentar evitar novos atentados. É exatamente esse o objetivo das sucessivas prisões de palestinos, até agora limitadas as áreas sob controle israelense, embora predominantemente habitadas por palestinos.
Segue a mesma lógica a pressão para que a ANP também prenda em massa os suspeitos de militar em grupos extremistas.
O problema, conforme lembra comunicado oficial do Ministério da Informação palestino, é que a ANP controla não mais do que 3% da área total dos territórios em que vivem os palestinos.
Mais: "O Exército de ocupação israelense tem o controle total das entradas que levam ao que é chamado de solo israelense", ou seja do território que Israel ocupava até a guerra de 1967, quando se expandiu para áreas antes pertencentes a países árabes.
Mesmo nesses limites relativamente estreitos, a ANP já fez mais de 1.500 prisões de suspeitos de pertencer ao Hamas.
Mas as autoridades israelenses dizem que apenas 100 continuam presos. E queixam-se de que Iasser Arafat, o presidente da ANP, nada faz contra pelo menos dois dos homens mais procurados pelo Estado judeu e que vivem nos territórios.
São Mohammed Dif, chefe da ala militar secreta do Hamas, e Muhi-Eddin Sherif, suspeito de planejar ataques contra Jerusalém.
Queixas recíprocas como essas levaram ao congelamento total das negociações de paz, a única verdadeira saída para minar, ao longo do tempo, as bases do terrorismo.

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