São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Governistas estimulam mais violência

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A lógica da violência gera uma espiral que só tende a estimular mais violência.
Exemplo: Saul Yahalon, um dos líderes do Partido Nacional Religioso, que faz parte da coalizão governista, propõe que, para cada atentado, Israel construa um novo bairro judeu em áreas árabes e, "para cada morto, uma nova casa para os judeus".
É o mesmo que jogar combustível para apagar o fogo, se for lembrado que construções israelenses em áreas habitadas por palestinos desencadearam confrontos mortais em 96 e neste ano.
Idêntico efeito terá, se levada adiante, a decisão da Associação dos Empreiteiros e Construtores de Israel de não mais empregar palestinos, mesmo que sejam licenciados para trabalhar no país.
Só esse grupo empresarial emprega 20 mil palestinos, em geral diaristas, cuja subsistência depende do salário pago pelos patrões israelenses. No total, Israel dá emprego para 100 mil a 120 mil palestinos, sem contar os 30 mil que trabalham ilegalmente.
Arma do desespero
Cortar-lhes o meio de vida é atirá-los nos braços do fanatismo, como diz o escritor árabe Tahar Ben Jelloun, ao comentar os atentado suicidas de quarta-feira: "A noção kamikaze não pertence à cultura árabe ou muçulmana. Essa prática do sacrifício vem da cultura do desespero. É a última arma".
Reforça Mahdi Abdul Hadi, da Sociedade Palestina para o Estudo de Problemas Internacionais: "Existe uma cultura de medo do futuro. Por isso, a única forma de acabar com os atentados é oferecer qualquer coisa".
O governo Netanyahu já oferecia pouco. Depois das bombas de quarta-feira, em vez de oferecer mais, passou a impor condições: "O diálogo com os palestinos terá um ritmo paralelo ao ritmo no qual a Autoridade Palestina fizer aquilo que pedimos a ela".
Nem todos, do lado israelense, seguem o mesmo tom.
Moshe Shacher, presidente do comitê do mercado Mahane Yehuda, onde houve o mais recente atentado, defende os trabalhadores árabes e diz: "Se se quer a paz, não se pode impedir os palestinos de ganhar a vida".
Mas editorial de sexta-feira do jornal "Haaretz" vai noutra direção: "Os suicidas e aqueles que os enviam não agem porque a paz demora para vir, mas porque eles não nos querem aqui, com ou sem paz".
Natural que, entre as vítimas do atentado ao mercado, esse sentimento expresso por um jornal moderado ganhe cores mais vivas.
"Devemos nos vingar, olho por olho. Os árabes nos odeiam e só entendem a guerra", reclama Kokhava Yacov, ferido no ataque de quarta-feira.
(CR)

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