São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Arafat também é "refém" do terror

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Se Netanyahu é um prisioneiro virtual dos extremistas, tem um consolo: sua contraparte palestina, Iasser Arafat, também o é.
"Toda punição contra a administração palestina fortalece aqueles que são contra o processo de paz", diz, por exemplo, Faissal Husseini, talvez um dos mais moderados líderes palestinos. Os que são contra os processos de paz são igualmente contra Arafat.
Avaliação semelhante já havia sido feita, no início de julho, pelos serviços de inteligência de Israel. Eles chegaram à conclusão de que o impasse nas negociações de paz era combustível para militantes extremistas dos dois lados.
Havia até, segundo essa avaliação, o risco de um levante popular contra Arafat, o que deu origem a um plano de contingência para intervir, nessa hipótese, nos territórios devolvidos aos palestinos.
O cerco a Arafat poderá ganhar contornos dramáticos se o governo norte-americano não conseguir licença do Congresso para renovar a legislação que lhe permite dar ajuda aos palestinos.
A lei expira dia 12, e há crescente oposição a sua renovação, ainda mais porque uma parte dos parlamentares norte-americanos compartilha da tese israelense de que Arafat não é suficientemente duro no controle dos extremistas.
O governo norte-americano canalizou até agora US$ 260 milhões para a Autoridade Nacional Palestina.
Já o governo israelense redistribuiu US$ 650 milhões de impostos à ANP, de janeiro de 1996 até agora. Desde o início do processo de paz, em 1994, o total chega a US$ 950 milhões (63% do orçamento total palestino).
Os EUA e, principalmente, Israel têm uma faca, na forma de dinheiro, apontada para a jugular econômica de territórios que já são pobres.
Cravar a faca até o fundo estrangularia Arafat e os palestinos, mas seria também o fim de negociações de paz já agonizantes.
Israel também pagaria o preço, na avaliação de Karmi Gillon, ex-chefe do Shin Bet, serviço de inteligência doméstico: "Se a suspensão das conversações de paz for longa, deixaremos o terrorismo vencer".
Ecoa o jornal "Haaretz", no seu editorial de sexta-feira, insinuando que o congelamento do processo de paz terminaria com uma conflagração geral e perguntando: "Em vez de uma pequena explosão, não haveria uma grande?".
Pela espiral de violência em andamento, a resposta seria sim. Mas é sempre possível que os dois lados acabem por se compor, como espera Asher Susser, do Instituto Dayan da Universidade de Tel Aviv: "Ambos os lados sabem que nenhum dos dois tem poder para coagir o outro a aceitar sua posição".
(CR)

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