São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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A noite dos desesperados

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Os governadores juram que não querem se candidatar à reeleição. A jura entra por um ouvido, sai pelo outro. Ninguém dá a menor bola.
O gaúcho Antônio Britto resolveu engrossar: "Eu me sinto naquele filme 'A Noite dos Desesperados'. O sujeito não está com a menor vontade de dançar, não precisa dançar e diz que não vai dançar. Mas tem que dançar".
Há um lado político nisso, mas há também uma forte dose de vaidade pessoal. Não concorrer parece um gesto de fraqueza, é como reconhecer antecipadamente a derrota.
De todos os governadores, o único livre do dilema é Paulo Souto, da Bahia. Esse já dançou mesmo, mas num outro sentido, porque o patriarca ACM determinou que a valsa da vez é de Luís Eduardo.
Os demais estão obcecados com as pesquisas, bajulando os próprios partidos e acompanhando cada passo dos adversários. Só pensam naquilo: recuperar a popularidade perdida a golpes de caneta, cortes e reformas.
Eles imaginam uma segunda fase para seus governos recheada de investimentos e de propaganda. Custa dinheiro, mas os aliados do governo federal sabem onde buscar.
Dois economistas, o ex-ministro Mailson da Nóbrega e o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Barjas Negri, tentaram mostrar a esta coluna, por "a" mais "b", que o orçamento é engessado e o efeito das pressões políticas, mínimo.
Mas não é assim tão simples.
Fernando Henrique vai preferir governar no segundo mandato com o fiel Antônio Britto ou com o petista Olívio Dutra? Com o correligionário Mário Covas ou com o sempre potencial adversário Paulo Maluf?
Se a bancada do PMDB governista está-se esfacelando, FHC pode desprezar os oito governadores que estão com ele desde o primeiro turno de 94?
Sinceramente, quando está em jogo a reeleição do presidente da República, sempre se dá um jeitinho. Os políticos argumentam bem. Os técnicos acabam docemente convencidos. Afinal, se FHC ganhar, eles também ficam.

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