São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Crise da prefeitura de SP atinge moradia

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS; LUCIANA SCHNEIDER
DA REPORTAGEM LOCAL

Projetos de habitação estão atrasados ou paralisados por falta de dinheiro; administração nega problemas

A crise financeira da Prefeitura de São Paulo começa a atingir um setor até então "intocado", devido à importância estratégica para o prefeito Celso Pitta: a habitação.
Além da desaceleração no projeto Cingapura (iniciado na gestão de Paulo Maluf e considerado prioritário também por Pitta), outros programas de moradia popular atrasam ou param totalmente por falta de dinheiro.
É o caso dos conjuntos habitacionais. Pelo menos dois grandes núcleos estão com obras paradas.
No conjunto habitacional City Jaraguá (região noroeste), 378 famílias retiradas de áreas de risco pela prefeitura moram em casas inacabadas e inabitáveis. As unidades possuem somente três cômodos (banheiro, cozinha e sala), e a prometida construção de dois quartos não ocorreu.
Em São Miguel (região leste), num projeto cuja verba foi financiada pelo Banco Mundial, a situação é semelhante. Mais de 300 famílias aguardam a conclusão das obras em condições precárias.
Ao assumir, Pitta prometeu também criar programas específicos para os moradores de rua, cortiços e áreas com risco de alagamentos e deslizamentos. Não criou.
Mutirões
Foi anunciado ainda o reinício do projeto dos mutirões -em que a prefeitura concede a verba e os próprios moradores entram com a mão-de-obra.
Após quatro anos de paralisação total na gestão Maluf, que considerava os mutirões um braço político da oposição, o mecanismo começou a ser retomado por Pitta. No total, seriam beneficiadas mais de 8 mil famílias.
Existem 76 projetos de mutirão aprovados pelo Tribunal de Contas do Município. Destes, apenas 3 foram concluídos desde o final da administração de Luiza Erundina (1989-92), outros 15 estão em andamento e 4 são considerados em fase final.
"Isso é o que diz a prefeitura", afirma Luci Valente, do Fórum dos Mutirões de São Paulo. "A verba liberada serve apenas para erguer as casas, mas não existe nenhuma infra-estrutura."
No Itaim Paulista (região leste) e no Jaguaré (noroeste) estão dois exemplos de casas entregues sem condição de serem habitadas.
"Estamos sem luz elétrica, água e esgoto", declara Delzuíta Duarte Pereira, do mutirão Estrela Guia (Jaguaré). "Já fizemos umas gambiarras (ligações improvisadas de água e luz) e agora vamos cavar umas fossas sanitárias."
O projeto integral dos mutirões custaria aos cofres municipais R$ 63,8 milhões. Esse valor é igual, por exemplo, ao que a prefeitura vai pagar de subsídio às empresas de ônibus nos próximos 90 dias -tempo da "trégua" solicitada por Pitta aos empresários.
Procurado pela Folha, o secretário municipal da Habitação, Lair Krahenbuhl, respondeu por intermédio de sua assessoria que "está tudo normal, não há o que dizer".

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