São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Fax acaba com conto milionário de Denílson

ALBERTO HELENA JR.

Da equipe de articulistas A noite de sábado foi um alívio para os palestrinos. Afinal, depois da biaba que o Palmeiras levou do Necaxa outro dia, plantou-se uma pulguinha atrás da orelha de cada um.
Mas, diante do Botafogo, o Palmeiras não só meteu 3 a 1, como deu claros sinais de que, se longe está daquele time encantador dos tempos de Luxemburgo, ao menos tem bala para ficar entre os candidatos ao título. Graças, sobretudo, a Velloso e a Zinho, que parece ter voltado jogando mais do que quando saiu.
Mesmo porque, como comprovaram Inter e São Paulo, no empate de 1 a 1 de ontem, não surgiu ainda um destaque especial neste campeonato, entre os chamados grandes. A não ser esse Vasco da Gama de Mauro Galvão, Válber, Edmundo e Evair, que ontem superou o Fluminense por 3 a 1.
Não por isso, claro, mas pelo futebol bonito e objetivo que vem praticando.
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Pelo visto, era mesmo um conto das "Mil e Uma Noites": o presidente do Barcelona, como uma Sherazad peninsular, de gravata e paletó, para escapar da degola dos seus eleitores, inventou essa história milionária com o menino Denílson como personagem central.
Armou todo o cenário de luxo em puro encantamento, que se desfez com lacônico fax anunciando o fim da história que nem teve começo.
De nada adiantou o presidente Casal de Rey ter ficado com os dois olhos abertos e um pé atrás o tempo todo. O estrago foi feito: nem o pote de ouro, nem Giovanni; apenas a dúvida se ainda haverá um Denílson endiabrado, irreverente, irresistível, ou, em seu lugar, um menino entre deprimido e amargurado. Ainda bem que, ontem, diante do Inter, Denílson deu um drible em mais essa adversidade.
Em todo caso, o Barcelona roendo a corda merece um caminhão de processos judiciais, partindo do São Paulo, de Denílson e até mesmo de Giovanni, que já assinara um pré-contrato com o tricolor e via nessa transferência a chance de reabilitar-se diante de Zagallo e do mundo.
Afinal, o prejuízo ainda é incalculável.
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Bem lembrou o Juca Kfouri: se o São Paulo aceitasse a oferta do Grupo Garantia -uma proposta mirabolante-, não só teria bala para manter Denílson em suas fileiras como ainda por cima ir lá e trazer Giovanni, à vista.
O irônico nisso tudo é que o São Paulo, para vetar qualquer parceria desse tipo, acena como exemplo esse mesmo Barcelona, um clube milionário, de estrutura convencional e sem patrocinadores.
É uma tese. É uma pena.
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E o Milan? Uma potência! Um elenco invejável e um treinador campeoníssimo -Fabio Capello. Mas o que vemos em campo, depois de um investimento de US$ 25 milhões para esta temporada? O técnico obrigado a improvisar a defesa, com três laterais-esquerdos de primeiríssima linha -Maldini, Bogarde e Ziege- e nenhum lateral-direito.
Vou chegando à conclusão que cartola é uma raça singular, sem fronteiras nem idioma definido. É que nem a barata: dá em qualquer canto e sobrevive a qualquer hecatombe.

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