São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Perda irreparável

JUCA KFOURI

A Band perdeu o melhor comentarista de futebol do país.
Tostão está rescindindo seu contrato com a emissora por incompatibilidade de estilo com o que considera o excessivo balcão de anúncios que caracteriza as transmissões da rede.
Nada contra o faturamento comercial, porque Tostão é uma pessoa sensata e contemporânea.
Ele se sente desconfortável, apenas, com o excesso de abraços e merchandising que, teme, pode confundir, na cabeça dos telespectadores, sua participação sempre sóbria e competente com as práticas que justamente condena.
Assim, perdem a Band e os telespectadores, até porque, por força do contrato que assinou e não considera correto contestar, Tostão ficará fora de quaisquer transmissões esportivas, em TV aberta, até depois da Copa do Mundo de 1998, na França. Uma pena.
O incômodo de Tostão revela uma realidade que teima em sobreviver na TV brasileira e, registre-se, há muito erradicada na líder Rede Globo, que, não é de hoje, simplesmente proíbe que seus profissionais façam propaganda.
A confusão entre o papel do jornalista, garoto-propaganda, empresário de atletas, promotor de eventos, vendedor de placas ou assessor de imprensa faz mal à credibilidade do jornalismo e à paciência do telespectador.
E é curioso como esse é um fenômeno típico da imprensa esportiva.
A própria Band, que tem uma imagem limpa e independente em seu jornalismo, recentemente tomou, diga-se de passagem, medidas profiláticas nesse sentido no departamento de esportes. Mas ainda há muito o que fazer.
Quando um profissional como Tostão, de passado impecável e exemplar em tudo o que fez e faz, chega ao ponto de abrir mão de um belo salário e do prazer de fazer aquilo que gosta, alguma coisa mais grave está acontecendo e será bom para todos, principalmente para o público, que os excessos sejam coibidos. E já.
Tostão não quer brigar nem criar caso, atitude que encontra reciprocidade na família Saad, que está agindo como o ex-craque merece, disposta a uma rescisão amigável.
Mas, além da perda por si só irreparável, a atitude de Tostão deve ser um marco para os novos tempos de que o jornalismo esportivo brasileiro necessita.
Por ironia ou sorte, quis o destino que fosse um mineiro a fazer o papel libertador, mesmo que já tardiamente.

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