São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Israel tem 'comando' para área palestina

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

As Forças Armadas israelenses têm pronto um grupo comando (a "Unidade Cereja") para tentar prender os cabeças do terrorismo em pleno território autônomo palestino.
É a alternativa algo menos radical a uma invasão militar convencional da área sobre controle da ANP (Autoridade Nacional Palestina), cuja consequência seria uma guerra aberta com os 33 mil homens em armas da ANP.
Se o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu já deu sinal verde para a operação, fonte alguma diz, como é óbvio. Mas os tambores de guerra tocavam alto ontem dos dois lados.
Na habitual reunião dominical do gabinete, Netanyahu disse que "o processo de paz não pode sobreviver, se Arafat (Iasser Arafat, presidente da ANP) não honrar seus compromissos, antes e acima de tudo, a guerra contra o terror".
Mas dois de seus ministros deram um passo além. "Arafat não está cumprindo suas promessas", disse o ministro da Segurança Pública, Avigdor Kahalani.
Para Kahalani, as autoridades palestinas estão executando apenas "medidas localizadas", não a guerra total contra o terror.
O da Habitação, Ariel Sharon (que comandou a invasão do Líbano em 1982), vai ainda mais longe: depois de dizer que Arafat nada fará contra o terrorismo, sugere que "Israel tome a responsabilidade em suas próprias mãos".
Dahlan, indiretamente, confirma a expectativa de Sharon, ao se recusar a retomar a coordenação de medidas de segurança com os israelenses, "enquanto Israel não quiser implementar os acordos".
Apenas uma oitava abaixo, o ministro da Informação, Iasser Abed Rabbo, chama de "imoral" a pressão israelense.
'Punição coletiva'
Já Saeb Erekat, o principal negociador palestino, lamentou, em debate pela CNN com Dore Gold, embaixador israelense em Washington, que, em vez de aceitar a oferta de Arafat para que os dois lados combatessem juntos o terrorismo, Netanyahu tenha "adotado uma punição coletiva contra o povo palestino".
Na mesma linha, o Ministério da Informação emitiu nota oficial ontem para dizer que o governo israelense está "violando os direitos humanos básicos do povo palestino, incluindo o direito de emprego e medicação, o direito de movimentos e chegando ao banimento da distribuição de jornais nos territórios palestinos".
A limitação ao direito do movimento colheu até uma noiva, Rouba Moussa, retida nos bloqueios israelenses quando tentava ir de Ramallah para a cidade do noivo.
Tudo porque Israel manteve o bloqueio total dos territórios palestinos. Ninguém entra nem sai de sua cidade para outra, a não ser nos raros casos em que, entre elas, não haja território israelense.
"É um cerco que semeia mais ódio e rancor, que ajuda a destruir qualquer esperança dos palestinos em uma paz justa", reage o Ministério da Informação de Arafat.
Nas ruas de Ramallah, apenas 17 km a norte de Jerusalém e uma espécie de capital alternativa da ANP, houve ontem uma marcha contra o bloqueio israelense, durante a qual os gritos de "morte aos judeus" não foram poucos.
A batalha de palavras é acompanhada da ação permanente das forças israelenses nas áreas palestinas ainda sob controle de Israel.

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