São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A polêmica do investimento

CELSO PINTO

Uma questão crucial para saber se a estratégia econômica será bem-sucedida é olhar seu reflexo sobre o nível de investimentos. Até aí, todos concordam, só que quando se trata de medir os investimentos começa a confusão.
O indicador mais usado do nível de investimentos é seu valor em relação ao PIB, a preços constantes de 1980. Traduzindo: é o valor de quanto se gastou em bens de capital e construção civil em relação ao produto total da economia, usando como parâmetro os preços deflacionados de 1980.
Na década de 70, quando o Brasil cresceu aceleradamente, o investimento a preços constantes ficou, em média, em 23,3% do PIB. Na década de 80, com a retração provocada pela crise da dívida, ele caiu para 18,6%. Nos primeiros anos desta década ficou em apenas 15,1% do PIB.
A partir de 93, o investimento voltou a crescer até chegar a 17,8% do PIB no primeiro trimestre de 95. A partir daí, contudo, começou a declinar e a média no ano ficou em 16,6%. As indicações preliminares para o ano passado são de que a taxa de investimentos recuou para 16,1%.
O resultado é melhor do que o do período anterior à estabilização, mas decepcionante. A estratégia de acumular déficits nas contas externas por alguns anos só faz sentido se o dinheiro for usado produtivamente, em projetos que tenham um retorno, a médio prazo, superior aos juros da dívida.
Os investimentos geram mais exportações ou substituição de importações, o buraco externo cai e a economia fica capaz de repagar parte do endividamento externo.
Se, no entanto, o buraco externo cresce e, ao mesmo tempo, o investimento cai, então a situação é preocupante. Significa que boa parte dos dólares foi usado para consumo não para investimentos e que, portanto, não se está gerando capacidade futura de pagamento.
Aí começa a polêmica. Se a taxa de investimentos for medida de outra forma, a preços correntes, a história é bem diferente.
Nos anos 70, a média a preços correntes foi menos impressionante, 21,4% do PIB. Nos anos 80, apesar dos problemas, o investimento cresceu para 22,2% ao ano. Na década de 90, caiu para 20,5%. Continua, hoje, em torno de 20% do PIB.
Quem tem razão? O Ipea, instituto de pesquisa ligado ao Ministério do Planejamento, argumenta que houve uma distorção nos dados do investimento medidos a preços constantes de 80. Ao longo da década de 80, houve um aumento no preço relativo dos bens considerados na taxa de investimento, especialmente na construção civil. A alta inflação inchou o preço dos imóveis, usados como proteção contra a inflação, e das obras de construção pesada, pelo temor de atrasos de pagamentos.
Nos últimos anos, estaria ocorrendo o fenômeno oposto: um barateamento no valor dos bens de capital, especialmente pelo maior peso da importação, e no valor da construção civil. Usando preços constantes de 80, perde-se esse efeito e subestima-se a taxa real de investimentos: menos dinheiro, hoje, compra mais investimento.
A médio prazo, as duas taxas tenderiam a convergir e acabar com a polêmica. A curto prazo, contudo, o assunto está longe da unanimidade. Michal Gartenkraut, consultor privado, concorda com o Ipea: a base de 80 ficou defasada e reflete outra realidade.
A economista Maria Cristina Pinotti, ao contrário, argumenta que existe, na série histórica, uma correlação estreita e que faz sentido entre investimentos a preços constantes e crescimento, que não se repete na série a preços correntes. Ela, portanto, prefere ficar com a taxa a preços constantes e seus resultados, até agora, decepcionantes.
Novo emprego
O economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, está de mudança. Em janeiro, deve assumir a direção da corretora que o banco BBA vai abrir em Nova York, onde pretende ficar pelo menos um ano e meio.
Bacha já vem assessorando o BBA há algum tempo, mas em Nova York dará ao banco dedicação em tempo integral. No momento, Bacha está estudando com afinco as regulamentações do mercado financeiro americano para passar nos testes exigidos pelas autoridades aos responsáveis por instituições financeiras nos EUA.

E-maill: CelPinto@uol.com.br

Texto Anterior: Aumentos a policiais somam R$ 44,3 mi
Próximo Texto: Militar reformado é preso por distribuir panfletos sobre greve
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.