São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Vitória pode simbolizar nova época

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma vitória de Gustavo Kuerten diante de Andre Agassi pode simbolizar uma nova era no tênis. Pelo menos, no marketing do tênis. Queira ou não, o brasileiro vai ter de carregar a responsabilidade de atrair o público jovem ao esporte.
Agassi cumpriu o papel por uma década. Quando surgiu, em 1987, os fãs norte-americanos sabiam que John McEnroe já não encarava o tênis como prioridade. E a semi-aposentadoria do Big Mac representava uma lacuna de carisma nas quadras.
O tênis era dominado por um bando de rapazes comportados, como Ivan Lendl, Stefan Edberg e Boris Becker -este último demorou mais alguns anos para amadurecer e demonstrar também ter um grande carisma.
Aí, Agassi apareceu no circuito, aos 17 anos, com cabelão de surfista e brinco. Ganhou seu primeiro título profissional no Brasil, derrotando Luiz Mattar na final. No ano seguinte, alcançou o terceiro lugar no ranking e começou uma campanha publicitária para a Nike.
"Andre é o tenista que queremos. Você pode olhar para ele e escolher: surfista, skatista, cantor de rock... Ele pode ser qualquer um desses", disse na ocasião um dos chefões na Nike. Não é preciso ser muito observador para ver que a descrição é perfeita para Kuerten.
Os dois também têm histórias parecidas no quesito uniforme. Se Kuerten causou polêmica este ano em Paris com suas roupas nada discretas, Agassi já protagonizou esse filme antes.
No final de 92, ano em que foi campeão em Wimbledon, Agassi celebrizou um uniforme preto, prateado, amarelo e rosa. Essa combinação, que ele confessa ter sido inspirada em roupas de skatistas, fez as vendas da Nike no setor dispararem.
Provando ser um grande marketeiro, Agassi manteve o suspense antes do torneio de Wimbledon, em 93. Será que ele desafiaria os organizadores, que exigem a predominância do branco no uniforme dos jogadores?
Agassi faturou em cima de tanta expectativa. Na estréia, entrou na quadra de grama vestindo branco dos pés à bandana na cabeça. Na camiseta, apenas um pequeno logo da Nike, que ganhou uma nova linha para vender.
Para completar, Agassi namorou na época a cantora, atriz e diretora Barbra Streisand, quase 30 anos mais velha do que ele.
No ano seguinte, conseguiu a proeza de surpreender novamente. Depilou o corpo todo, para "ficar mais aerodinâmico e ganhar velocidade na quadra".
Com 34 títulos no currículo e quase US$ 50 milhões no banco -dinheiro recebido em prêmios e contratos de publicidade-, este ano Agassi despencou no ranking. Perdeu algum cabelo, ganhou uma barriguinha e casou com um sonho dos adolescentes norte-americanos, a atriz Brooke Shields.
Kuerten tem o mesmo visual de Agassi e uma vantagem: já ter um Grand Slam no bolso, coisa que Agassi levou seis anos como profissional para conseguir.
Pedir ao público e à imprensa que não façam comparações será uma total perda de tempo. Kuerten deve esquecer isso.
E, claro, ter consciência de seu papel de ídolo teen na hora de sentar à mesa para discutir contratos com seus patrocinadores.

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