São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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A melhor reflexão sobre o futebol

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, muito (mas ainda insuficiente) já se escreveu sobre o futebol -e muito escritor bom já escreveu sobre o futebol.
Entre os brasileiros, além da monumental "futebolística" de Nélson Rodrigues -talvez nenhum outro escritor no mundo tenha captado as obsessões necessárias para gostar do futebol como ele-, e já aceitando o risco de deixar muita gente boa de fora, lembro, de tacada, Mário Filho, Lima Barreto, Alcântara Machado, João Cabral (que glória!), Antonio Maria, Stanislaw Ponte Preta e outros.
Mas, sem medo de errar, afirmo que não há reflexão intelectual mais consistente, mais esclarecedora, mais capaz de transformar em palavras certas abstrações do futebol, mais capaz de dar uma certa totalidade a essa experiência quase sempre particular, mais exata na maneira de misturar um rigoroso conhecimento estético com a emoção comum do torcedor de futebol, do que os cinco textos sobre esse esporte escritos por Decio de Almeida Prado -e que acabam de ser agrupados no livro "Seres, Coisas, Lugares - Do Teatro ao Futebol (Companhia das Letras).
O mais antigo desses textos foi escrito sobre Leônidas, em 61, como reminiscências da passagem do rei da bicicleta pelo São Paulo do Decio.
"Ninguém fazia tanto gol feito como ele -e não há artilheiro sem essa arte misteriosa de apanhar as sobras, de estar no lugar exato no momento exato", escreve Decio.
O segundo artigo, escrito em 62, versa sobre quatro campeões do mundo: Gilmar ("Tudo é nítido no seu estilo, vemos o corpo estirar-se no ar, vemos a bola claramente agarrada entre as mãos, acompanhamos todo o desenvolvimento da jogada, quase como se estivéssemos seguindo-o em câmara lenta"), Didi ("é a ausência de ímpeto que o torna capaz de observar e divisar com tranquilidade o companheiro melhor colocado, é a falta de vibração que não deixa largar a bola precipitadamente, por mero impulso emotivo, antes de saber exatamente o que pretende com a jogada"), Garrincha ("as suas paradas sucessivas, após cada finta, parecem desmentir o axioma de que em futebol o essencial é ganhar alguns décimos de segundo sobre o adversário') e Pelé ("há jogadores de vária espécies: de ataque e de defesa; de técnica e de elasticidade; de vigor físico e de habilidade com a bola. Pelé é o único a reunir todas essas qualidades contraditórias").
Em 70, escreveu sobre as fotos de Pelé ("o único Rei na atualidade cujo título não parece usurpado"), em 88, escreveu "Latejando com o Futebol" ("essa segunda pátria que é o clube do nosso coração") e, em 89, "Tempo (e Espaço) no Futebol". Sobre este último, não conto nenhum trechinho. Ele precisa ser lido na íntegra, pois é a melhor reflexão sobre o futebol já escrita no Brasil.

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