São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Invocada

MELCHIADES FILHO
ACHO A PAULA MEIO CHATA.

Moleque, não compreendia seu mau-humor. Torcia pela sorridente Hortência.
Jornalista, percebi várias vezes (talvez incorretamente) rancor e raiva em suas declarações -fossem desabafos, comemorações ou lamentos.
Nunca engoli a história de Magic Paula, estratégia pedante de marketing lançada no momento em que seu jogo dava os primeiros sinais de decadência.
Considerei decepcionante sua atuação na final de Atlanta. O ouro não viria de jeito nenhum, mas acho que ela tremeu diante das norte-americanas.
Por fim, penso que desperdiçou a chance de se livrar da "sombra" de Hortência ao recusar o convite para ser a pioneira brasileira da NBA feminina.
Tenho certeza de que Paula está acostumada a comentários melosos, elogios babões, suspiros de jornalistas.
Talvez encare esta coluna na esportiva. Talvez desdenhe dela, como fez, com seu talento, com tantas adversárias.
Não importa. O fato é que esta é a hora de reverenciá-la.
Pois Paula, a armadora mais habilidosa que o basquete (masculino e feminino) nacional já produziu, está se despedindo da seleção brasileira.
Quando seus dribles foram convocados pela primeira vez, em 1976, imagine só, os heróis do esporte verde-e-amarelo deste final de século, Gustavo Kuerten e Ronaldinho, nem mesmo tinham nascido.
Ernesto Geisel era o presidente, a moeda era o cruzeiro e "Escrava Isaura" estourava na televisão. Quanto a mim, titubeava em deixar de chamar a professora de "tia".
Comandado pela última vez pelas mãos de Paula, 35, o Brasil busca a partir de hoje o título da Copa América e a classificação ao Mundial de 98.
Estou providenciando ingressos. Quero levar a família ao Ibirapuera para assistir ao adeus de uma jogadora invocada -mas espetacular.

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