São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Fonseca e Bastos criam 'CD de autor'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O conceito é pouco comum, mas "Paradiso", segundo álbum da dupla carioca Celso Fonseca/Ronaldo Bastos, é um "disco de compositores".
Bastos, 49, integrante nos anos 70 do elenco do clube da esquina (é co-autor de "Cais", "Trem Azul" e "Cravo e Canela"), radicaliza o conceito: participa apenas como compositor -não canta, não toca, não arranja.
"Compondo para outros artistas, não conseguia desenvolver um trabalho autoral. Para um autor que não canta, é difícil reunir fases do trabalho. Esse é um disco para ser ouvido inteiro, como se lê um livro", justifica Bastos.
Fonseca, 40, também produtor e músico da banda de Gilberto Gil, é quem dá voz às canções, além de tocar violão e conceber os arranjos. Mas mesmo ele prefere se definir compositor.
"Eu gostaria de ser reconhecido como compositor. Não sei se sou cantor. Admiro autores que cantam. Sou fã de Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, queria me enquadrar nisso", afirma.
Ainda assim, "Paradiso" é dedicado a uma artista que se notabilizou como intérprete: Nara Leão (1942-89).
"A dedicatória tem uma razão prosaica", explica Bastos. "Nunca tive violão, até que Celso resolveu comprar um pra mim. Comprou um antigo, de bossa nova, que apelidei de Nara Leão. Mas claro que a homenagem é à cantora, não ao violão."
"Identifico-me muito com Nara", diz Fonseca. "Era uma cantora de voz pequena, mas de interpretação divina, que nunca foi devidamente reconhecida."
"Não existiria essa modernidade de que se fala na MPB sem a existência dela", explica Bastos. "Ela é central na MPB, não só como artista, mas como personalidade. Era chique, linda."
Antes de "Paradiso", os artistas já lançaram em parceria o disco "Sorte" (93), mostruário de trabalho que desenvolviam desde 85.
Dessa fase, surgiram sucessos que acabaram identificados com certo padrão radiofônico dos 80, como "Chuva de Prata" (gravada por Gal Costa) e "Sorte" (por Gal e Caetano Veloso).
"Foram tachadas de bregas, mas eram canções populares numa época em que as melodias estavam escassas", afirma Bastos.
Contando com um time de músicos que inclui Marcos Suzano, Nivaldo Ornelas, Arthur Maia, Robertinho Silva, Jaques Morelenbaum e Milton Nascimento (com participação vocal em "Quanto Tempo"), o CD gravita, segundo os autores, em torno da elegância.
"É um disco simples, mas elegante. Isso faz parte da tradição da MPB há muito tempo, mas é algo de que temos sentido falta atualmente", diz Fonseca.
"Buscamos uma filosofia de elegância, que passa por Noel Rosa, com um pé no 'grand monde' e outro na sarjeta", define Bastos.

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