São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997 |
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Álbum funciona como tributo a Nara Leão
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Contornando a obsessão pela elegância, o que acaba por conferir tom franco de delicadeza a cada uma das 11 faixas do CD é a voz pequena de Celso Fonseca. Evidencia-se um salto flagrante de qualidade interpretativa entre o disco anterior da dupla, "Sorte", e este "Paradiso". Antes, Celso Fonseca se esforçava por emular o canto de Caetano, valendo-se de um timbre que admite comparações. Soava como um sub-Caetano, quase um cover. Hoje, parece mais próximo de João Gilberto, não por querer voluntariamente se assemelhar a ele, mas por se inserir numa corrente de canto manso, tranquilo, despretensioso. Aí se justifica a menção a Nara Leão, figura-síntese de tal vertente no canto feminino brasileiro. Nesse sentido, "Paradiso" é plenamente bem-sucedido. Evoca o universo de Nara, do intérprete que não pretende alcançar a eternidade em cada canção, em composições belas que não pretendem ser mais belas que a música. No mesmo compasso em que Celso Fonseca se afasta do canto de Caetano, Ronaldo Bastos se liberta do padrão mineiro de composição a que se associou nos 70. Resultam de tal contenção programática pérolas de discrição -"Você Não Sacou", "Candeeiro" (com referências leves a "Mas Que Nada", de Jorge Ben, da mesma lavra de Nara, e a "Chão de Giz", de Zé Ramalho), "Vento Azul"... Não se comete nenhuma revolução, mas se consegue (o que não parece pouco hoje em dia) estabelecer um ambiente próprio, que tira por paradigma não alguma corrente já por demais difundida, mas a figura hoje levemente marginalizada de Nara Leão -um tributo tão tímido quanto digno. (PAS) Disco: Paradiso Artistas: Celso Fonseca e Ronaldo Bastos Lançamento: Dubas Quanto: R$ 18, em média Texto Anterior: Fonseca e Bastos criam 'CD de autor' Próximo Texto: Reedições buscam origens de Paulinho Índice |
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