São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Maconha e cocaína são comuns na MPB

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Se as constantes proibições ao Planet Hemp fossem estendidas a outros que "elogiam o crime, induzem e instigam ao consumo de entorpecentes", na interpretação da juíza Daisy Lago, alguns artistas teriam problemas para sobreviver.
Os Virgulóides provavelmente não teriam saído da zona leste de São Paulo. Afinal, "Bagulho no Bumba" e seu refrão "eu acho que o bagulho é de quem tá de pé" pode ser muito mais inocente que o "eu canto assim porque eu fumo maconha", primeira frase de "Queimando Tudo", do Hemp, mas o bagulho está lá.
Para não voltar aos anos da censura, como 1980, quando Baby e Pepeu diziam "Você Pode Fumar Baseado", como imaginar que Bezerra da Silva possa se exibir com os conteúdos de suas canções?
"Vou Apertar, mas Não Vou Acender Agora", regravada pelo Barão Vermelho, é café pequeno diante de "São Murungar", do LP "Justiça Social" (87). Ao refrão "Me diz, vovó/ diz sim /quem foi que botou maisena no meu pó", ele adiciona estrofes como "Tem um moleque safado/ a fim de me esculachar/ misturou minha rapa/ hoje não vou cafungar".
Se Bezerra aqui invoca o santo dos cocainômanos, ele no mesmo disco conta a história de um vizinho que é caguetado por ter "jogado uma semente em seu quintal". O caso é que o "o cheiro era bom/ ali sempre estava uma rapaziada". Diante do delegado, se explica: "não sou agricultor/ desconheço a semente".
Claro que Bezerra não assume uma postura política como o do Hemp em prol da legalização da erva e prefere falar das mazelas nas favelas, de amigos presos -razão pela qual ele mesmo quase foi para o xadrez nos 80. A maconha, produto popularíssimo no Brasil não só no morro, entra em suas letras como a malandragem, o samba ou as relações sociais entrariam.
Não por outra razão Zeca Pagodinho faz sua provocação elegante em "Fumo do Bom" (92). Afinal, fumo que "vovó mascava" e a "mamãe passa nos dentes" não faz mal para o "moleque que gosta de cair na gandaia e aperta o fumo na 'paia"'. Fumo de rolo, no caso.

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